quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sinceridade já matou.

Te escuso meu amigo,
e não quero mais te ver.
Olha, sinceramente, não queria,
sei que não podia,
e nem esperei acontecer.

Você tem andado com umas pessoas estranhas,
uns caras meio sacanas,
eu nem queria te dizer.

Mas abre teu olho,
pega as chaves, esconde o molho,
esse não é nem mais você.

Me desculpe ser sincero.

A Roça do Seu Aristides

A gente ia pra lá quando era criança,
pegava bicho de pé, carrapato,
era aquela andança.

O Seu Aristides sempre sabia quando a gente ia chegar,
só de ouvir os pezinhos, ele já saía na porta, viola no braço,
já dava um abraço e começava a cantar.

E a gente era novo,
não entendia de quase nada.
Quando Seu Aristides cantava aquelas coisas de amor,
que a mulher dele até chorava,
a gente tava chutando o pé do outro debaixo da mesa,
tava esperando a sobremesa,
tava querendo correr no milharal.

Mas agora a gente entende o Aristides,
quando a gente vem aqui triste nesse bar.
São Paulo já não cabe mais gente,
a gente não encontra mulher descente,
e já faz um mês que tamo cansado de trabalhar.

E quem de nós que não senta nessa mesa,
bebe três, quatro cerveja,
e não tem vontade de voltar?
Lá pra onde era certo,
a roça do Aristides era perto,
leite de vaca, queijo fresquinho,
e música triste pra gente brincar.

De tudo desses mundos, desses tempos, de nem sei.

Tenho um medo do futuro
a partir do momento em que lembrei que ele existe.
Sinto saudade um mês antes de sentir,
e um ano inteiro até ela passar.

Meu coração é meio estranho.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Na realidade
as únicas partes boas da vida
são aquelas
que você nem se toca
que vai lembrar pra sempre.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Planto tuas cinzas tal qual semente e te rego até nascer de novo, se for preciso.


Teria mil cortes nas mãos, cansadas do garimpo.
Teria cem calos nos pés, fartos da terra.
Teria quinhentas cicatrizes na face, surrada nas brigas.

Tenho cortes, calos e cicatrizes no peito, ainda aberto e tentando compreender.
Acomete-me a vontade. A saudade. E algo mais.
Aparece-me o desespero das pessoas ao meu redor.
Medo e vergonha me desesperam agora.

Se tivesse a lâmpada,
pediria para não fazer mais escolhas na vida.
As que eu fiz, até agora, já bastam.
Já me faço feliz com elas, já sou completo.
Pediria para que outros me escolham,
outros me digam o que fazer.
Não quero precisar entender o meu passado
e me culpar pelo presente que talvez tenha fugido.

Busquei o que precisava,
sou o homem feliz que queria ser,
mas a tristeza ao meu redor me faz triste,
as fugas e atalhos que não percebi que tomei
percebem-me agora e me apontam o dedo.

Eu fico com o que quiserem,
tomo a pílula azul ou vermelha.
Se essa é minha vida agora,
sou feliz.
E ainda quero dividir.
Então venha pegar sua parte,
porque, mesmo dizendo que não, convidei todas as vezes em que tinha muita felicidade para dividir.
E a resposta foi "deixa pra outro dia".

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A comédia do seu fim.

O que é isso que ostenta no peito?
É coisa que nem sabe direito?
Encontra o velho pão dormido
e perde os dentes pra se acostumar
treze anos de alegria
o triplo e meio de azar
na maleta três aspirinas
um copo d'água
margarinas
dois quilos de manjar

O que te esconde se não surte efeito?
Já troca o tempo pelo selo eleito?
Pensou que foi mas não tinha ido
diz que tenta mas nem quer tentar
abre a mão mas noutro dia
poesia é puro ar
vai lembrar daquelas sinas
quedas d'água
marinas
e não vai querer voltar

Não se muda nenhum feito.
Do berço até o leito.
Queria ter sido
poderia mudar
se pensasse na maria
se pudesse não lutar
pede até graças divinas
benze água
imaginas
e perde e deixa o tempo voar

Eu não sei entender o começo, meio e fim.
Ai de mim.

Meu tempo

De tudo um pouco
se alimenta o profundo mar de sentidos.
O toque na pele,
o som do sorriso.
Percebe a falta nos segundos
quando o tempo passa bem mais devagar.
Hoje é tartaruga, até te encontrar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Porquesia?


A poesia não é um salto no escuro,
seria triste demais se fosse.
A poesia é um extremo norte de algum lugar bem ao sul do oeste.
A poesia é deus, e todos sabem que ele não existe.
Os que não sabem, por favor se submetam a exames.
Por que a poesia é tão manda chuva?
Bate vento na janela.
A poesia pra mim é uma teclinha que eu aperto dentro do nariz de um mendigo.
É um botãozinho no cu de um elefante, e você veste pés de pato e máscara de mergulho.
A poesia pode ser qualquer palavra relacionada a sexo, traumas de infância ou anestesias.
A poesia tem fedido ultimamente.
Me disseram que é bom não usar desodorante na poesia,
ele escurece a pele.
Eu gosto da minha poesia de pele lisa e mal passada, com muito molho, por favor.
A poesia é uma esfera azul cintilante no fundo mais profundo do mar.
Poesia é o caralho.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

04:15 é quase.


O quê tem pra me dizer a essa hora da madrugada?
Que ainda falam em algum lugar do mundo,
trancados no quarto?
É o que faço agora?

Vais hoje, que já é tarde,
e volta daqui um tempo,
que já é tudo natural.
Mas e se não fosse?

Daí tem muitas pessoas na tua vida que ainda respiram
mas nunca mais dividiram o teu ar,
e nem irão.

"Mas vai hoje, que já é tarde"
é o que me diz essa hora da madrugada,
e eu acato e vou quieto.

Lá tem vida nova no teu sangue.
Aqui também.
Meu grande amigo disse que vida é quando toca a vida de alguém.

Daí a gente vai tocando a vida então.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Otimismo, pra quê te quero?


Decepo-me e logo noto nós na minha cabeça.
Chego mais perto para um olhar mais aguçado.
Vejo pulgas atrás da orelha e rugas nos olhos.

Boto minhas luvas de taxidermista
e vou ao ataque: PLAFT! tenho minha consciência em mãos.
Brinco um pouco, giro-a no ar.
Aproximo o bisturi e corto na metade.
Jogo uma parte fora e a outra boto logo de volta no lugar.

Dilacero-me a cabeça em todas as partes.
Tiro metade de um e metade de outro.
Três metades para cada três inteiros
são jogadas no lixo,
as outras três, devolvo a mim.

Ao fim do dia, tenho só sorrisos,
que metade de mim que era choro
fica nos entulhos hospitalares
dessa nossa vida,
para ser esquecida ou reciclada.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Paranóia

Olho de um lado pro outro.
Olho de novo.
Tem sempre alguém ali.
Olá.

Olho pra ver se ando torto,
olho meio torto de novo.
Cadê?
Não achei ninguém.
Olá?

Cadê aquela minha calma?
Cadê a alma que já tive aqui?
Cadê as respostas pra vida que pedi?
Cadê os pedidos que queria ouvir?

Olho de um lado pro outro,
um lado torto, olho pra mim.
Tinha alguém que não está mais ali.
Tinha alguém aqui que não estou mais.
Tem quem entenda?
Alguém me conhece?
Queria que conhecessem.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Quanto silêncio onde já foi riso.


Deixei a comida sendo preparada na rua e
corri com o medo do assalto.
Abri essa porta barulhenta achando que ouvia alguma voz dentro da casa.
Nesse caminho da sala até meu quarto,
o coração pulava no peito tal qual acrobata no trapézio.

Imaginei encontrar alguém nessas paredes,
alguém afim de uma conversa longa,
querendo abstrair o mundo e negar as incertezas do nosso coração.

Queria, por um instante, ouvir um causo longo
sobre alguém que não conheço
e dar uma risada monumental.
Falar da minha saudade de ver essa casa cheia,
lembrar de dias de Rango Louco, Alcione e areia,
contar das minhas veias onde corre meu novo amor.

Pra mim, parece que tudo passou na velocidade de um foguete,
fiquei adulto, fiquei chato, careta, amei demais.
E tudo isso em um só ano,
em uma voltinha ao redor do quente sol de São João del Rei.
E o quanto eu me lembrei.

Mas esse alguém dessa conversa
é esse ninguém do meu peito,
onde tudo passa do seu jeito,
onde tudo quer, sem que ninguém peça.
Acendi meu cigarro, pra acalmar o coração,
pra feder o meu quarto já cansado,
amarelar os finos dedos dessa mão.

Não nos prego como nostalgia,
tenho 20,
já fui triste
e já nem sou.
Só não quero o resto da vida só por vir,
com um ou outro aqui, outro por lá.

Queria todos juntos,
no quintal,
conversando junto à fumaça dos mil cigarros que sonhávamos em negar.
Só que ando com um vazio no meu peito,
onde tudo quero do meu jeito,
onde tudo peço, sem passar.

sábado, 17 de setembro de 2011

inconstitucionalissimamente

Busco problemas pra me entreter,
nesse sofá quebrado do quintal.
Onde escolhi cartas na noite passada,
e hoje não tenho nem cigarro pro meu mal.

Sinceramente, eu não consigo escolher
o que eu realmente sinto que quero.
E as vezes acho que ando sem sentido pro futuro.
O que antes era um conselho pra viver o agora,
se torna um apelo pela cigana que lerá a minha mão.

Esses sonhos que tenho são vagos e infinitos,
e o meu medo é de não realizá-los até o fim da vida.
Vou tentando, seguindo o conselho dos amigos.
O que tem me importado agora são as companhias.
E tenho as melhores.

Mas aqui, agora, trancado no meu quarto,
não tenho visto motivo pro meu futuro realizar,
não importa o quanto tento.
Pode ser tragédia da cabeça,
dramas do desconhecido,
ou falta do que fazer.

E então, por enquanto nem importa.
Se estou feliz agora, vou continuar fazendo o melhor pra continuar assim.
E deixa que as coisas chegam.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

De muitos, faltam poucos.


Talvez eu seja esse grande clichê,
mas quem não é?
Em pouco tempo, as coisas tomaram tantos rumos,
que o conforto do clichê às vezes me caia bem.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Me diga o número do teu bilhete e direi quem tu és.

E agora me carrego de sonolências,
às quase cinco da manhã.
Preocupado com o transporte
que, desculpem, fede morte
e cachaça barata.

Mas, enquanto em movimento,
me preocupo e me contento
e me vejo quase ali.
Quase perto do que uma semana pareceu tão longe pra mim.

E só agora me percebo pronto pra dormir.
Poderia ser mais cedo, a sonolência,
mas é sono lento de chegar.
Talvez pelos amores aqui no peito,
os pavores que nem sei direito,
e a vontade de te ver.

Só sei que suo frio,
mas fecho os olhos pra dormir tão bem.
Que amanhã, na estrada longa,
vou passar pelas paisagens
que sei que já passou também.
E vou feliz.

sábado, 10 de setembro de 2011

Título

Sempre vejo graça no que acho que é agora.
Agora anda tão longe que nem sei.
Hoje me rodeio de alguns que não são
e de outros que são e talvez nem sejam.

Em alguns meses, sinto que sei que sou o que talvez nem seja.

E é simplicidade que me traz e leva.

Me deixo e me vou e volto.

E o frio do risco, na barriga,
adrenalina, que disse ao amigo agora a pouco.
E o amor. Que nem explicaram mas sei que sinto.

Se isso não for ser,
não sei o que é.
Se não for, me perco e sou.

De último momento.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

round my hometown


Tua força no meu peito.
ME MATA Ó SAUDOSA SAUDADE,
saúdo o que nunca tive e volto saudável pra casa.

Lembro dos tempos em que não sabia como seria esse tempo
e esqueço de tudo e volto.
Nunca volta, eu sei,
mas ficar saudoso é bom e então estou aqui pra lembrar.
Quem quiser lembrar, arrume a mala e pule na caçamba.
Je crois entendre encore
Caché sous les palmiers
Oh souvenir charmant,
Folle ivresse, doux rêve!

Sou sonho, e és também,
pelo fato de ter percebido que somos todos os mesmos,
em lugares diferentes.

Charmant Souvenir!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Aquele ele que sou eu perto de ti e sou feliz.


E ao acordar se viu face a face
e descobriu que era isso mesmo
e não tinha por quê não ser.

E passou o dia inteiro pensando no que já tinha pensado
e leu algo do dia passado
e esperou a noite, que sabia que viria.

E veio, e continuou pensando,
e se viu face a face de novo,
e já criou um carinho enorme
e uma vontade
e uma duvida de que se não for verdade
e um medo de estar errado
e acha que não está
e é muito tímido pra achar
e tem certeza que vai mudar
porque não pode perder, por eles dois, que se precisam talvez.

E ao acordar se viu face a face,
novamente,
e se despediu pra ficar pensando
e esperando.

sábado, 3 de setembro de 2011

Na ultima noite (minha versão pra "Cornerstone" dos Arctic Monkeys)

Na fumaça daquela noite,
pensei ter te visto.
Mas acho que era apenas ótica.
Parecia o teu fantasma,
perto bastante para ser ele.
Mas perdi tudo quando perguntei se podia chamá-la pelo teu nome.

Na fumaça daquela outra noite,
achei ter te visto.
Sentada na cadeira enquanto eu tentava enxergar mais de perto.
E beijei quem quer que fosse que estivesse sentada ali,
tão perto.
E ela me abraçou firme,
até que perguntei educadamente: "por favor, me deixa te chamar pelo nome dela?"

E, no táxi de volta, pedi pelo caminho mais longo.
Teu perfume estava no cinto de segurança,
então preferi guardar os caminhos curtos pra mim mesmo.

E na fumaça da outra noite,
quase acreditei ter te visto,
brincando com o alarme de incêndio.
O som estava alto, não consegui ouvir,
e seu braço estava engessado.
Estava tão perto que até as paredes estavam molhadas,
e ela pôde escrever nelas: "não, você não pode me chamar pelo nome dela"

Me diga onde é que você se esconde,
estou realmente preocupado, acho que vou esquecer como é teu rosto.
E eu já perguntei pra todo mundo.
Começo a pensar que te imaginei esse tempo todo.

E, no táxi de volta, pedi pelo caminho mais longo.
Teu perfume estava no cinto de segurança,
então preferi guardar os caminhos curtos pra mim mesmo.

E na fumaça da ultima noite,
vi tua irmã no telefone.
Quando percebi que ela estava só,
achei que ela talvez entendesse.
Ela estava perto, quer dizer, não tinha como chegar mais perto.
E ela disse: "Eu não deveria, mas sim, você pode me chamar do que você quiser".

Não fique mal, amor não dói.

Não é pela tristeza, meu bem.
É pela esperança e o sentimento que me faz sentir.
É por não conseguir explicar.
É por querer bem, sem saber como vai.
Mas é, no fundo, pela vontade de querer saber até como não vai.

São pelos pixels em que escrevo e que há pouco eram tua face.
E pela memória, pela saudade.
Por tudo que sonhei e até vivi, nessa minha cabeça dura,
pela minha timidez ao teu olhar.

Pela vontade de explicar que me fazes bem,
por pequenas coisas assim,
pela lágrima que hoje vi e quis limpar.
E pela vontade de, se quiseres, dividir contigo esse tempo que talvez possa durar.
São por todos esses pores e pelos e pelas esse meu carinho grande,
esse amor que sou sem jeito de falar.

E se me disfarço na tua presença, é que sou criança,
ainda há pouco aprendi a andar,
mas que sei que sabes que de longe não tem nada e é só tempo e tempo é muito,
e repito: se quiseres, tens esse tempo que já tenho pra te dar.

Sobre o ponto alto da vida de qualquer ser.

Vim ao mundo nú, pequeno e mudo.
Chorei aos zero anos de idade.
Meus pés tocaram o chão frio às 14 horas de algum dia de algum mês e aprendi a andar.
Falei minhas primeiras palavras em uma noite de qualquer-feira de alguma semana.
Abracei e beijei mãe e pai todos os dias.
Conheci todas as pessoas do mundo, e conversei bastante com elas.
Me apaixonei aos 13.
Estudei Freud, Darvin, Marx, Bakunin, Brahms e Mozart.
Li Burroughts, Adams, Huxley, Kerouac, Snyder e Ginsberg.
Saí de casa aos 19.
Conheci novamente todas as pessoas do mundo, e ainda converso bastante com elas.
Agora, se me perguntas sobre o ponto alto da vida de qualquer ser,
respondo: são todos.
E cada segundo é importante e todo pensamento é válido e todo amor é vivido e toda lágrima chorada e todo riso verdadeiro e toda fala dita e todo o todo é tão necessário quanto é pra ser.
Agora, se me respondes que estou errado,
replico: então não vim ao mundo, não chorei, não andei, não falei, não abracei nem beijei, não conheci, não apaixonei...
Espera, tem algo errado nisso aí.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Tempo e o Bipe e a Vida e o Não e o Adeus (Tradução livre de "What Sarah Said" - Death Cab for Cutie)

E daí eu entendi que cada plano
é uma pequena reza pro tempo.
No momento em que eu me apoiava nos sapatos, naquela UTI
que fedia a mijo.
E eu controlei meu ar enquanto dizia a mim mesmo:
Já aguentei demais por hoje.
E cada bipe do monitor te levava um pouco mais longe de mim.

Entre as máquinas de refrigerantes e revistas velhas
em um lugar onde só se diz adeus,
como agulhas em um vento violento que são as nossas memórias
e que dependem de uma câmera defeituosa na nossa cabeça.
E aí eu sabia que você era uma verdade que eu preferia perder
a nunca mais deitar ao teu lado.
E eu olhei ao redor, todos olhando pro chão,
enquanto a tevê se entretia sozinha.

Pois não há conforto na espera
só passos nervosos esperando a má notícia.
E então chega a moça de branco e todos levantam a cabeça.

Mas eu estou pensando no que a Sarah disse,
que amar é ver alguém morrer.

Então quem é que vai te ver morrer?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Alice

Alice tinha sete anos de idade
e alguns errinhos de caligrafia.
Escrevia que amava os pais,
mas amar ela nem sabia.

Dormia com sete pelúcias brancas
abraçando uma a uma.
Dizia que tinha monstros no armário,
mas sabia que monstro não existia.

Depois dos vinte, preferia os dezenove,
mas os anos passam, minha querida.
Pensava que não era nada,
e nada era o que seria.

Amou dezenove dos seus vinte amigos,
Alice enlouqueceu de paixão breve.
Matou os pais que nunca amou
e o amigo que sobrou.

No final, desmaiou, louca, trancada no banheiro,
cocaína e sangue no ralo do chuveiro,
os pulsos cortados por inteiro.
Seu final com dor e desespero.

Poeira

Pisa o pé e fica preto
no chão sujo da casa suja
e toma um banho breve
pra dormir deitado à direita.

Não sente mais vida, só dores nas costas de uma queda amortecida
e não tem amores.

Tosse da 1 às 6 da manhã e dorme com fome e sem sono.
Se pudesse, mudava tudo.
E pode.

A solidão e o sol (Ou "O brilho da noite no reflexo do teu canto")

Solene, o sol vem brilhar nas formosas horas do fim do dia,
quando acordo.
Vejo e faço um contrato: vai-te embora em uma hora
que esse que lhe aborda é da noite por escolha própria.
Mas não teimo em não deixar me esquentar por esses breves segundos,
quando acordo e o nosso acordo está fechado.

E ele vai, e sei que esquenta a casa de outrem,
que agora também acorda.
No meu fim do dia, quando abro os olhos,
percebo falhas na parede do teu quarto
e sinto o cheiro da fumaça velha da lata que é cinzeiro.
Tenho dores de garganta constantes por não ver o sol.

E aquela outra, que logo ali citei
-que agora é quente pelo sol, e não por mim-
aquela é bela e não me conhece, nem eu a ela.
Mas o mesmo sol, que me urge cinco e pouco,
acorda os galos do quintal da moça às seis e meia.
E os galos a acordam quando os meus olhos abrem,
sem saber se é pelo sol ou por mim mesmo.

Só que de lua e frio eu me contento,
e conto meia hora pra partir.
Enquanto canta o sino aqui,
no outro canto o galo canta e é hora de dormir.

Só me compenso pela dúvida
de pelo menos não saber
se um dia eu acordo galo
e ela sino.
E o sol a brilha e o brilho me acorda sem sol e eu canto
pra ela cantar.

Então continua com o nosso acordo, sol,
que quando partires eu acordo
pro resto do mundo acordar.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

mudei o banner. fiz no busão que entrei as 10 da noite e saí as 7 da manhã.
ficou ruim.
preciso dormir.

sábado, 13 de agosto de 2011

Dessas noites que me pedem

E te peço que venha e brilhe os olhos
que brilham
e me tira da penumbra desse quarto.
Se tenho estado sozinho, me ajuda a passar.

Desses momentos que me quis

E me fiz bem,
amém.
Só se me quero,
já quero o mundo.
E se já deixamos de lado qualquer tipo de cuidado,
caio já na ladeira e subo ao contrário pra me ver
no espelho
às sete da manhã
longe e sem ninguém
nu
e com os olhos sem luz
e já nem sinto aliviado
e nem meço angustia
pois se minha alma pesa
e se me pesa de agonia
jogo fora e vivo sem
e não ligo e nem posso
só espero que depois
não me apareça
com os olhos de fogo
ardência no coração
e a cabeça em chamas.
Por que já não te chamas de santeiro?
Já pensa em jogar a vida no bueiro?
Espera o amor do mundo inteiro?
Pois fique longe da cebola desse canteiro.
Que de lágrimas já bastam todos.

Dessas poesias que não escrevem

Só gasto o tempo se for hora de deixar,
e singelo, o tempo gasta e deixa fio pra poder puxar.
E quando puxo o fio,
tem traços de gente que o fio foi fiando pra traz.

Se pudesse ia junto, por uns tempos.
Podia só ser hora de deixar passar.
E como podia e seria,
passa e vá com deus, que eu fico aqui sem acreditar.

Só torro o tempo se acho que é hora de torrar,
e faz tanto tempo que não torro, que fio não quer nem puxar.
Mas quando vem, e vem de jeito,
tem forma de todo mundo que deseja ficar.

Desses descuidados erros meus

Enfim te achei, tão solitária,
e ao lado estava eu incompetente pra saber.
Mas daí a gente sempre acha que todo mundo é sozinho.
E fiquei sem saber.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Aula de história, sala 2.01.

Criou histórias na sua cabeça
e com essas histórias criou o mundo,
na cabeça.
Daí achou que o mundo eram essas histórias da cabeça.
E ficou triste.
E esqueceu de viver.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dor de Dente

O desespero é estranho
já sentiu?
É como se fosse dor de dente,
fica lá no fundo e toda hora te avisa.

É...
É tudo muito estranho nesse mundo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

o jolho do frigo

uruguaiana
te espero
de manhã
uruguaína
te aguardo
já de tarde
uruguaia
ifalifonfon
ifalifonfon
uruguaiana
que saudade
de noite
ifalifonfon

e como diria a mineirinha, do poeta minairofariamendes
PIUIIIIIIIIIIII

Soneto da Lembrança

op678
op2
ap678
ap2

po543
po9
pa543
pa9

io1
op0
oi1

op0
oi1
io1

passotempoja

di gi di gi
to
e ao lado o violão

ap er ap er
to
e ao lado o violão

cl i cl i
co
e ao lado o violão

pe n pe n
so
e ao lado o violão

du r du r
mo
e ao lado o violão

e te n
ho
saudade de quando tocava junto

domingo, 10 de julho de 2011

Ei, caros amigos, eu já cansei de ser ator. Agora quero ser eu mesmo e que me amem assim, de carne e osso. E me desculpem a péssima atuação.

- Quero uma lágrima, um copo de cachaça e um cigarro, por favor.
- Embrulha tudo pra viagem, meu senhor?
- A cachaça e o cigarro, pode embrulhar. A lágrima eu vou aproveitar agora e talvez precise de outra logo em seguida.

Meu choro não existe por falta de tentar.

Eu ia falar de coisa largada,
solidão.
Mas eu guardo essas breguices
só pro meu penar.

sábado, 9 de julho de 2011

A gente sabe.

Esses teus murmúrios de sincera poesia,
essas tuas histórias de longos tempos,
essa tua vida de sorrisos alastrados,
esses teus carinhos tão saudosos e sentidos.

Esse teu amor pelo que não foi nada,
essa tua tristeza talvez tão repentina,
esse teu largar dos irmãos mais novos,
esse teu querer de vida doentia.

Essa tua ausência nas palavras que antes tinha,
essa minha vontade de voltar naquelas quintas,
todo esse rancor que criamos de outra vida,
essa falta que a gente tem do que seria.

Meu grande irmão, meu grande amigo,
se não for por isso, é por aquilo.
É pouco então, estou perdido.

Mas não se preocupe, aqui tem conforto e entendimento,
quando a gente precisar.

domingo, 3 de julho de 2011

A Má Temática da Puta

Inclinada na cadeira
noventa graus de pagamento
parcelados em uma vez
sem juras de amor eterno.

Todo mundo ali. Não vou pra lá. Ainda.

Ainda te espero,
como se fosse aquela criança boba que te conheceu anos atrás.
E te procuro,
todos os dias sem cansar nem descansar, e me faz bem.

Me prometo,
me desfalo, me contento.
Mas ainda te espero,
como se fosse aquele que eu era e escrevia algumas coisas bonitinhas pra você.

Só que não desespero.
Sabe, o tempo é grande e o querer tem tempo pra crescer também.
Só sei que não esqueço,
mudo, viro, falo, toco, escrevo e não esqueço.

De que nos adianta o esquecer?

Quem?

Invicto.
É, ele tinha um ar meio assim,
vencedor supremo.
Sabe, cara?
Aqueles que têm nariz empinado até quando tá fodido na vida?

Daí o cara chega e diz: todo mundo é um mero filho da puta!
Mas é claro que é. Já tava imposta essa parada.
E o grande problema é que o cara pensa que ele não tá incluso nessa porra toda.
O cara chama o mundo de filho da puta,
mas ele mora em outro lugar e não participa da putaria.

Eu, sinceramente, acho isso uma grande sacanagem.

sábado, 2 de julho de 2011

Elefante. (Tradução livre de "Elephant" - Damien Rice)

Isso precisa morrer
precisa parar.
Isso precisa cair,
com outra pessoa em cima de tudo.

Você pode me manter colado,
é mais fácil de me provocar.
Mas você desenha um elefante
tão bem quanto ela consegue desenhar.

E talvez ela chore como um bebê.
E ela talvez me leve à loucura,
porque, ultimamente, eu ando tão sozinho.

Então por que você tem que mentir?
É como se eu fosse suas muletas.
O travesseiro com fronhas
é bem mais fácil de encostar.

E quando você pensa que pecou
você se ajoelha?
Senta junto ao teu retrato?
Ainda esquece o vento leve?

E ela talvez se levante, se eu te botar de lado.
E daí ela pode, experta, se fincar no chão.
Porque, esses dias, eu ando muito tarado,
mas, então, porque ela iria me querer assim?

Qual é o motivo da canção? Ou mesmo desse cantar?
Se você já se foi, porque eu ainda te tenho comigo?
Eu poderia muito bem jogar tudo fora, e viver sem ela,
poderia fazer tudo isso por você.
Eu até seria forte.

ENTÃO ME DIGA SE VOCÊ QUER QUE EU MINTA,
PORQUE ISSO PRECISA MORRER.

Precisa parar.
Isso tem que cair e cair,
com outra pessoa no topo de tudo.

Ambas conseguem me manter colado.
Porque assim é bem mais fácil de me provocar.
Mas nenhuma consegue me fazer feliz
tão bem quanto eu mesmo consigo.

Bem, isso é tudo mentira.
E você sabe.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Receita para nada

Junte 5 pessoas bem-vestidas.
Amarre uma lagartixa viva numa bombinha de São João.
Escreva 9 poemas sobre vasos, navios e canibais.
Compre tempeiros diversos no mercadão do centro.
Jogue bolinha de gude com os parceiros e tente ganhar todas.
Unte uma fôrma média e deixe no fogo médio por uns 9 anos.

Recite os poemas para as 5 pessoas, um de cada vez, enquanto elas tentam acertar todas as bolinhas de gude na lagartixa, até a bombinha estourar. Quando acontecer, páre de recitar os poemas, jogue os tempeiros na lagartixa morta (ou quase morta) e coloque na fôrma, junto com as roupas das pessoas (que, no momento, já devem estar bastante irritadas). Deixe a fôrma por mais uns 3 anos no fogo, não é necessário olhar o ponto.
Sirva com cautela.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Desapego

Aperta
Solta
Agarra
Solta
Abraça
Solta
Alenta
Solta
Amassa
Solta
Amarra
Solta
Ama
Sente

terça-feira, 21 de junho de 2011

Até o fechar dos olhos

A gente vive cada segundo numa intensidade gigantesca,
parece que, a cada momento, a vida vai dar uma guinada e a gente precisa estar preparado.
Tudo afeta a nossa pequena cabecinha e nos deixa pensando e pensando,
tantas horas pensando em cada segundo que passou.
E a gente nem percebe.
Depois de um tempo tudo é tão natural, que idéias geniais vêm e vão e a gente joga todas fora,
achando que são meras mediocridades da nossa alma estagnada de crescer.

E daí cada segundo passa, e é tão intenso quanto o outro,
mas tudo já ficou tão normal, que a gente não sente intensidade.
Então chora, pede abrigo, procura deixar tantas horas tão intensas como eram os segundos.
Lembra de quando era criança.
Quer dizer, lembra um pouco. A gente já perdeu muita lembrança,
e, me desculpem dizer, mas as perdemos por causa de trivialidades imbecis que botamos na cabeça.
O preço do pão, o carro do João, o filho do patrão, o rosto do ladrão.
E não valeu à pena. Por que só a gente sabe que, à noite, no quarto, a saudade de não pensar é tão grande
que a gente prefere dormir logo, porque de olhos fechados é mais fácil amar e ser amado,
e lá ninguém vai ser procurado por crimes que não cometeu.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

EXTRA! EXTRA! PRISÃO DOMICILIAR LEVA À PENA DE MORTE!

Enquanto Otávio se entretia com seus pensamentos, olhando para o vasto nada da janela de seu prédio, sem querer deixou as chaves de seu apartamento caírem do beiral. E nem percebeu.
O som metálico das pequenas peças compridas não chegaram aos seus ouvidos, devido ao simples fato de morar no décimo quinto andar de um prédio do então deserto subúrbio de uma cidade do Mato Grosso do Sul.
Continuou pensando por alguns minutos, a cidade estava tão quieta nessa noite.
Tirou seus cotovelos da janela e foi preparar algo para comer. Sua despensa estava tal qual a cidade, quase vazia. Pegou alguns ingredientes, acendeu o fogo e ficou com seus pensamentos enquanto a água borbulhava e a fina massa de trigo e ovos ficava macia e se transformava em macarrão.
Colocou o molho de tomates em outra panela, acendeu o fogo. Adicionou condimentos e temperos ao seu gosto e provou a mistura enquanto esquentava. Sorriu ao sentir o paladar que, de alguma forma, lembrava sua já velha mãe. Olhou para a mesa procurando o cartão telefônico que havia comprado para ligar do orelhão da portaria do prédio. Sentia saudades de sua mãe. Encontrou com os olhos o cartão onde o havia deixado e sorriu novamente.
Esquentou, junto ao molho, as almôndegas que sobraram da janta anterior. Juntou todos os alimentos na panela maior e se alimentou nela mesma, utilizando apenas um garfo.
Ainda sentado na mesa, pensou mais um pouco nos assuntos que estava pensando, e se viu cochilando com a cara na madeira vermelha cheia de marcas de uso. Havia comprado a mesa em uma loja de coisas usadas.
Levantou-se, tirou suas roupas e vestiu algo mais quente e confortável. Era inverno e fazia frio.
Deitou-se em seu sofá, pois não tinha nem dinheiro nem espaço para pagar uma cama. Pensou que queria comprar uma televisão para poder cochilar enquanto dava risadas dos programas da TV. Depois pensou que talvez preferisse ficar com seus pensamentos.
Acordou no outro dia com a cara amarrotada, mas já estava acostumado. Seu sofá também era comprado do brechó, e já estava descascando um pouco.
Deu descarga no vaso sanitário, lavou seu rosto. Comeu alguns pães murchos que comprara na manhã anterior. Teve até vontade de passar margarina neles, mas o pote que se encontrava na geladeira estava vazio.
Resolveu juntar as roupas que precisava mandar lavar. Encontrou um cigarro meio velho e amassado no meio da bagunça. Jogou as roupas de lado, acendeu o achado nas chamas do fogão e o fumou inteiro, debruçado na janela. Pensou em algo que achava que havia perdido.
Jogou a bituca para longe e a viu caindo no terreno baldio que dava para sua janela. Seus olhos foram ofuscados pelo sol refletido por algum objeto metálico que também se encontrava lá.
Voltou aos seus afazeres. Sempre pensativo.
Após arrumar seu apartamento, Otávio resolveu que era hora de descer o elevador e ligar para sua amada mãe após comprar seus mantimentos no supermercado no outro quarteirão. Era um domingo de junho, fazia frio e o prédio, a cidade e a despensa estavam vazios.
Abaixou a maçaneta da porta da sala, puxou a porta e lembrou-se que esta estava trancada. Procurou as chaves na mesa, pegou o cartão telefônico e colocou no bolso. Ficou feliz por ter que procurar as chaves, pois já ia se esquecendo de levar o cartão. Não encontrou as chaves na mesa.
Ficou com sede, mas não havia água no filtro. Lembrou também que precisava comprar água, pois era impossível tomar a água do encanamento velho e gasto do prédio. Ficou feliz por ter que procurar as chaves, pois já ia se esquecendo de comprar outro galão d'água.
Continuou procurando suas chaves em todo o pequeno apartamento. Não as encontrou em lugar algum.
Lembrou-se do beiral da janela. Lembrou-se de ter debruçado lá após ter chego em casa do seu trabalho de atendente de telemarketing. Abriu a janela. Olhou todo o beiral. Tateou todo o beiral. Pensou em sentir o cheiro do beiral, mas percebeu que isso não ajudaria em nada.
Olhou para baixo. Para o terreno baldio que se estendia até o fim do quarteirão. Ficou um pouco desconfortável com o objeto que refletia a luz do sol direto nos seus olhos. Coçou seus cabelos, um pouco desesperado. Forçou sua vista e criou coragem para olhar para a maldita coisa que refletia o sol.
Soltou um gemido. Depois um leve grunhido. Depois um pequeno "caralho". Depois um alto e sonoro "PUTA QUE PARIU".
Estavam lá suas chaves. Suas únicas chaves. O passaporte para o mundo exterior que ele agora queria tanto estar.
Andou pelo apartamento. Sentou no sofá. Pensou em algumas soluções. Tentou não se desesperar. Deu uns leves socos na parede. Andou mais um pouco. Abriu a geladeira. Fechou. Abriu denovo. Fechou.
Deu uns pulinhos com os olhos fechados.
Pisou forte no chão.
Socou sua porta, forçou a maçaneta, gritou alguém do corredor.
Lembrou que ninguém mais morava naquele andar, exceto um estudante que já havia saído de férias.
Voltou a janela. Gritou por ajuda.
Juntou alguns fios de varal, os amarrou para ficarem juntos, segurou em uma das pontas e os atirou pela janela. Não passaram nem do décimo segundo andar.
Sentou no sofá denovo, acariciou seus cabelos. Deitou.
Pensou no celular que queria comprar, no interfone que ia mandar consertar, no apartamento novo que iria alugar, na cópia da chave que não devia ter deixado com o Gilmar, na raiva que dava vontade de matar, na barriga que começava a roncar.
Olhou na despensa. Um pão velho. Comeu. Olhou na geladeira. Um copo de leite. Bebeu.
Pegou uma faca, tentou desparafusar a maçaneta. A faca não tinha pontas. Se arrependeu de não ter comprado aquelas chaves de fenda que tinha visto outro dia no camelô.
Puxou, puxou e puxou a porta, tentando arrombá-la. O braço não tinha forças. Se arrependeu de não ter entrado naquela academia que tinha visto outro dia no centro.
O tempo foi passando. Otávio se desesperando, sentado no sofá.
Começou a pensar no que estava pensando. Não conhecia ninguém naquela cidade, não gostava do seu trabalho. Não tinha televisão, telefone, cama, comida, dinheiro, dinheiro e dinheiro. Não lia mais livros, não ouvia piadas, não amava há uns anos.
Dormiu com fome, puto e sem soluções.
Sonhou que estava voando da janela do seu prédio. Voou até o Ceará. Deu um abraço em sua mãe, decidiu que ficaria por lá. Sentou na mesa grande da casa da família, comeu muito e tomou água limpa. Conversou com seus primos, contou da sua vida e do apartamento em que estava preso porque havia perdido a chave. ACORDOU.
Ficou no sofá mais um tempo, sem pensar em nada. Lavou o rosto da forma mais demorada que conseguiu e socou a porta mais algumas vezes.
Olhou na janela. Ficou olhando e olhando. O sol nasceu. O bairro desolado não acordava com ele. Não se ouvia carros. Ainda estava frio.
Passou bastante tempo olhando pela janela. Sentiu que sentia fome. Não tinha nada pra comer. Comeu as unhas.
Bebeu a água da torneira, com gosto de sal e ovos de vermes.
Ficou o resto do dia no seu sofá. Não ouviu nenhum som, nada existia mais.
Dormiu denovo e teve o mesmo sonho.
Acordou e fez tudo denovo, exceto a parte das unhas, pelo simples motivo de já ter comido todas elas.
No terceiro dia de seu confinamento, encontrou a solução que seus sonhos haviam lhe falado.
Amarrou sua toalha suja no pescoço, como se fosse uma capa. Vestiu uma cueca por cima das calças amarrotadas. Abriu a janela.
As chaves ofuscaram denovo os seus olhos.
Sorriu ironicamente enquanto seu estômago roncava pela ultima vez.
Subiu no beiral, o peito inflado, o vento acariciando seus cabelos. Deu uma longa risada honrosa.
Fechou os punhos e estendeu um braço enquanto o outro ficava rígido perto da cintura.
Gritou "SIGAM-ME OS BONS" e se jogou no ar da cidade deserta.
Se aproximou das chaves perdidas e, quando menos esperou, já estava em casa abraçando sua mãe e comendo uma deliciosa macarronada.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Orgulho

Mas mesmo assim continuou pensando em se querer.
Ele nunca soube como é.
Ele nunca teve tal tipo de sentimento.
Queria ele sorrir de face inteira, sentir o vento e dizer: sou o grande dono de mim.
Mas não podia; nunca pôde.
Pudera ele se encontrar. Descobrir o que esconde por detrás de seu tão duro crânio.
Pudera ele se imaginar em seu próprio futuro.
Mas a falta do sentimento, a falta do sorriso, ah, isso ocupa todos os seus pensamentos.
VAI BUSCAR O TEU CAMINHO, GAROTO.
É tão novo para pensar como pensa.
É tão tarde para parar de pensar.
Pudera eu sentir o que tanto quis.
Pudera eu sentir, sorrir, e ver o sorriso na face de todos que espero que sintam.

resposta

- Se eu for, você vai comigo?
- Não.

altoaltoalto

FALO ALTO
GRITO
FALO MAIS ALTO
ME CALA?

Partes.

Te escrevo pedindo pra pensar.
Me devolve a carta pensando em não mandar.
Te grito, louco, jurando que vai ouvir.
Me faz sinais mudos avisando que não ouviu.
Te encontro, corro, espero.
Me fala dessa derradeira vontade de partir.
Te digo: vai.
Me diz: vou.
Te limpo as lágrimas.
Me despeço.
Te abraço apertado.
Me emociono.
Te solto.
Me contento.
Não estás mais aqui desde que me disse que ia.

No fim, o mar de rosas tinha mais espinhos do que botões.

- Eu vou.
- Mas porque você vai?
- Me dê um bom motivo pra não ir.
- Eu não vou.
- Eu não quero que vá.
- Então não vai também.
- Não, não tenho motivos pra não ir.
- Fica por mim.
- Não posso.
- Não quer?
- Não disse isso.
- Então não vai.
- Eu vou.
- Mas daí eu vou contigo.
- Eu não deixo você ir.
- Então fica.
- Se eu ficar, você vai?
- Devo ir mais tarde.
- Mas você não ia ficar?
- Eu fico se você for.
- Então eu vou.

sábado, 4 de junho de 2011

terça-feira, 31 de maio de 2011

Somos

Eu sou o começo de tudo
uma faca afiada que corta rente
e sangra

sou uma conversa espatifada
um orgulho em devaneio
alma sobreposta até não caber mais

Sou teus olhos fechando

Sou aquele abraço apertado da despedida
aquele velho ditado, frio na barriga
sou amor guardado de longa data dentro de mim

Sou a tua delicadeza

Sou você, e não parto porque quero
vou-me pois é hora
hora de ir



PS: Incorporei essa na introdução de um projeto musical meu que você pode acompanhar por aqui http://soundcloud.com/baloubet e que pode ser ouvida a seguir

Baloubet - Intro by Baloubet

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Amar em oito linhas

Com coração não se faz pouca coisa,
ama o dia inteiro cada um de tudo um pouco,
desde criança até morrer
coração brinca de fazer.

Se antes como zelo,
prazer agora é,
e, no fim, comodidade.
Só não ama quem esconde da verdade.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Canção pra não atrasar

peço que despeça
e vá voltando pro lugar
de onde veio pra ficar o meu amor
não é longe

venha nessa pressa
e tenha calma pra acalmar
o seu tormento pode acabar com o sonho
do mundo

calma que eu já tenho
todo tempo que precisa
e mesmo assim vou tentar conseguir mais
só pra quando

você enfim chegar
e avisar que agora
o tempo e todo mundo
pode existir de novo

vai saber quando encontrar
mas não vá fugir
quando, amor, você voltar
eu vou estar aqui
como estive a esperar
e o nosso tempo vai chegar

agora não descuide
e não atrase o teu momento
o meu silencio vai poder falar mais alto
até onde?

então cuide pra chegar
que o meu abraço é apertado
e anda louco pra te encontrar agora

vai saber quando encontrar
eu vou estar aqui
mas a dor vem me buscar
se você não vir
onde eu posso te achar
e o seu tempo vai passar

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Such a small world

Minhas grandes paixões estão tão longe,
mas nunca tive medo de distâncias.
E, mesmo assim, somos tão jovens
e temos uma grande vida pela frente.

Grandes vidas em um mundo tão pequeno.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Metrônomo

1
não perca o rítmo
não perca o rítmo
não perca o rítmo
2
não perca o rítmo
não perca o rítmo
não perca o rítmo
3
não perca o rítmo
não perca o rítmo
não perca o rítmo
4
não perca o rítmo
não perca o rítmo
não perca o rítmo
5
-não perca o rítmo
---não perca o rítmo
--não perca o rítmo
6
PÁRA.

terça-feira, 17 de maio de 2011

A grande mentira

Isso que acabei de dizer foi uma grande mentira,
dita apenas por dizer.
Se me ouviu e concordou,
quer dizer que não entendeu nada.
Se discordou,
quer dizer que não gosta de ti.

Não é a ironia que me faz precaver,
é a vontade de mentir.
Mas somos todos atores,
não em um palco,
mas em um gigantesco camarim.

Complemento

Esquece de escrever tuas poesias.
Esquece de pedir essa ajuda imediata.
As coisas não funcionam assim.

Se um dia achou que podia haver dentro de ti
a resposta para todas essas pequenas perguntas,
volte: estavas errado.

Agora páres de juntar palavras como bem entendes e vai viver tua vida.
Tens tão pouco tempo para se completar.

domingo, 15 de maio de 2011

Relógio Digital

Não quero me adiantar
e muito menos ter tempo de sobra pra ver quem eu não quero.
Quero ficar cheio das tarefas
e correr pela cidade também atarefada.

Não preciso de mais tempo,
quero menos, quase nada.
Só assim vou enfim voltar a viver,
correndo e vendo sempre o fim que não acaba.
E é desse jeito que as pessoas felizes devem viver.
Digo devem porque não sei.
Devem dizer que sabem.
Mas quem é feliz, conta aos outros?
Ou só corre e corre e corre e corre e corre e corre e corre e corre e corre e corre e corre?

O Sempre

São essas paixões que caíram como os raios dessa chuva.
Fazem seu estrago e desaparecem para todo o sempre.

Escolhem o local de pouso no improviso,
caem como se nada tivesse acontecido.
Explodem o chão e tremem à sua volta.
Fazem seu estrago e desaparecem para todo o sempre.

São esses amores que ficaram como as pedras dessa montanha.
Fazem seu lar e permanecem para todo o sempre.

Escolhem o local de pouso na certeza,
caem como se fosse a verdade do mundo.
Explodem o chão e tremem à sua volta.
Fazem seu lar e permanecem para todo o sempre.

Conhecimento

Te conheço novamente
e te vejo bem como sempre quis.
Mas dessa vez escuto as palavras que sonhei tanto, anos atrás.

Te sinto outra vez
e fico aquecido e sorridente.
Mas dessa vez vejo um pouco de verdade no que sempre esperei.

O que fazes comigo é inexplicável,
e, mesmo assim, tão indefinidamente longe, fico feliz e durmo bem.

És uma grande guia, um anjo, que me aparece periódicamente e renova os sonhos,
me faz acreditar que ainda existe o que eu acredito e tenho em mim.

Quem me dera conseguir realizar essas promessas,
agora talvez eu sonho por elas.
Meu grande sentimento jovial.
E és tu, minha grande musa, causadora de mais de mil de minhas poesias.
Tu que me transforma tudo.

sábado, 14 de maio de 2011

Aquela história do mundo

Inoculo o medo e tiro os paradigmas.
Vivo um dia de cada vez, sem pressa de acabar.
Corro atras das coisas de um jeito sério e, ao mesmo tempo, desapegado.
Tudo acabou dando certo.

Só me falta alguém pra dividir essa alegria.
Mas, como tudo tem seu tempo,
vivo um dia de cada vez, sem pressa de acabar.

Live an let die.

Tudo passa e vai.
O que passa, te muda.
O que te muda, se reflete.
O que refletiu, deixou marca.
O que deixou marca, te fez crescer.
Tudo passa e vai.
But if this everchanging world in which we live in makes you give in and cry...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mas daí percebeu que uma companhia para viver no mundo dos sonhos não seria nada mal.
No fim, all you need is love (E UMA MONTANHA PRA MORAR).

Sobre aquela serra do jardim do édem do livro de mentiras.

Sentiu o vento do topo do mundo nos cabelos loiros.
Disse que queria mais.
Sentiu a água fria que brota do chão nos pés quentes.
Arrepiou e disse que queria mais.
Sentiu a pedra áspera da montanha nos joelhos já ralados.
Urrou de dor e disse que queria mais.
Sentiu a grama molhada de orvalho nas costas queimadas do sol.
Sonhou e disse que queria mais.
Sentiu a luz das estrelas nos olhos quase cerrados.
Sorriu e disse que queria mais.
Sentiu, dentro do peito e em todo seu corpo, as inúmeras vontades, desejos e querências. Sentiu tudo e resolveu dizer:
Não quero mais. Não preciso de mais. Tudo está completo tal qual a montanha e suas virtudes.

domingo, 8 de maio de 2011

Ter tido tempo em várias linhas

Tempo tempo no apuro
corre tempo pega lá
tempo tempo na corrida
quanto tempo de corrida dá

tem tempo que aperta tempo
tempo corre tempo pega
tem tempo que não dá tempo
tenho tempo pra parar

pego tempo tempo tinha
se não tenho tempo dá
se já pego o tempo antes
mais tempo tenho pra tentar

passo o tempo todo o tempo
tenho tempo na mania de passar
mas se tempo tenho pra largar
tinha tempo todo tempo pra voar

tempo tempo voa tempo
tenho tempo pra pensar
mas no tempo que não tenho
tento ter o tempo de sonhar.

Aliás, ter tempo ou não ter tempo não importa no final. Tempo passa e tempo fica, teu tempo há de passar.

-

Então: Ah! Me dá um tempo.

Reconhecimento

Sobreponho essas lembranças vãs,
há tanto tempo já não falo contigo.
Mas às vezes chego a me perguntar
há quanto tempo já não falo comigo?

Mas não deixo me arrepender daquelas tardes
noites e afins.
Quando, sem pedir nada,
me dava o motivo pro sorriso longo e demorado.

Sei que foi de ti grande parte da minha vida,
grandes meses que passaram,
alguns anos que vivi.

E é também de ti, menina,
o meu grande apelo ao desconhecido,
pois já te desconheço como antes de ter conhecido.
Te ver assim, no desconhecido,
me da um calafrio
e te digo, mulher,
não aguento esperar esse talvez grande fim de solidão.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sinto Esquecer

Quero entender o meu amor
tão longe aqui dentro
eu não sei mais tentar viver

Queria não poder me acalmar
ver todo tempo livre
como um mar que não dá trégua

Sinto esquecer sua canção
de noite no meu quarto
o meu colchão me cala o medo

Como pude ver dentro de mim
alguém que não seria mais eu mesmo?
Eu não entendo

Não sei se não queria mais
Saber que não podia me entender
Talvez se eu fosse algo mais
pudesse então dizer não assim

Nada vou querer pra me deixar
e nada vou pedir
eu vou partir então sozinho

Se à noite então alguém me encontrar
agora eu sinto que chegou o tempo
e vou correndo

Não sei se não queria mais
saber que não podia me entender
Talvez se eu fosse algo mais
pudesse então dizer não pra mim

Você passou e não sorriu
Pra mim não passa mais de um vazio
Pra mim eu sou o mesmo que te viu
tão só, tão só, tão só.


-

é uma musiquinha legal que eu fiz esses dias.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Clara Penumbra

Hoje soube que qualquer penumbra é motivo de desespero,
desde o aconchego dos lençóis até o ultimo degrau da caverna.
Não se relaxa um segundo, e qualquer sinal de luz é euforia.
Estou na penumbra total, mas as vezes lembro que trouxe uma lamparina.
Pequena, como se fosse feita pra mim, no meu atual estado.
Tenho estado rouco demais para dividir idéias sensatas.
Todo esse mundo que teima em querer ser ouvido e não pede respostas,
simplesmente diz aleatoriedades, mas suplica um entendimento imediato.
Essa dor de cabeça me causa náuseas.
Cansei de informações.
Estou rouco demais para palavrear contra qualquer suposto crime.
Estou rouco demais para palavrear.
Sem mais palavras.
Fui criado assim.
Criado mudo.

domingo, 24 de abril de 2011

Um só produtor.

Ninguém gosta de se mostrar para os outros como um grande perdedor. Eu também não fugia à regra, até que um dia decidi ver o que as pessoas fariam se eu as dissesse quem eu realmente sou e o que eu fiz pra me tornar isso.

Prazer, meu nome é Daniel Spott e eu sou um grande perdedor.

Não, não digo exatamente nessas palavras, mas as pessoas acabam entendendo assim.

Olá, meu nome é Mario e eu vim consertar o seu encanamento.

Capítulo 1 – You can always go downtown.

“Entre, meu querido”, disse a velha que morava em um mofado apartamento no centro.

Eu não soube diferenciar se aquele cheiro horrível vinha da velha, do apartamento, ou dos canos que eu disse que daria jeito. Mas não importava, eu terminaria aquele trabalho rápido e sairia pra comer um churrasco. De algum jeito, aquela situação me deixava com uma vontade horrenda de comer a picanha que mais espirrasse sangue na minha cara.

“Com sua licença, madame”. Tinha de ser educado, um encanador nunca seria.

Ela me levou ao banheiro - aquele imundo banheiro me dá náuseas só de lembrar. “Aqui estão os canos que estouraram. Não ligue para a bagunça, estou com alguns probleminhas para arrumar tudo.”

“Claro, minha senhora.” Probleminhas com a vida, ela quis dizer. Caso contrário eu não perderia meu tempo visitando-a. Uma coisa engraçada sobre essas pessoas estranhas do centro. Toda vez que venho fazer trabalhos por aqui, - o que já devo ter feito umas 4 ou 5 vezes – eles sempre parecem perdidos na vida, grandes perdedores, mas quando me anuncio, tentam arranjar desculpas para explicar a bagunça em que têm vivido. Fico imaginando o que têm contra encanadores, eletricistas, instaladores de TV e coisas do tipo. Será que devo parecer muito mais perdedor do que eles ao ponto de precisar de explicações sobre a sujeira?

“A senhora poderia me dar licença um momento? É que preciso religar a água para encontrar o problema.” Sempre funciona. “Se puder fechar a porta também, por gentileza.” Sempre sutil e educado.

Nunca soube encontrar problemas em canos. Nunca precisei disso também.

Aquele era um banheiro apertadíssimo, e eu quase não conseguia abrir minha bolsa confortavelmente e ajustar o silenciador. Outra coisa engraçada sobre essas pessoas do centro. Elas nunca parecem muito assustadas quando me vêem segurando uma pistola, prestes a colocar uma bala em suas cabeças vazias. Acho que já esperam por esse momento algum dia. Perdedores que são, sabem que vão ter uma morte rápida e imbecil.

Foi assim com a senhora corcunda e fedorenta do 503 de algum prédio nojento do centro. Apenas abri a porta, mirei, e atirei contra ela. Nenhum som de desaprovação, nenhum susto ou sinal de medo. Só seus miolos frescos se juntando à parede suja.

Quando você mata alguém que mora sozinho, em um apartamento esquecido, ninguém se incomoda em procurar quem o fez, ou o porque. Apenas jogam o corpo em algum necrotério já lotado e esperam um parente reconhecer a vítima, caso haja alguém que se interesse.

Eu nunca me interessei. Ou nunca havia me interessado até o dia em que conheci a garota de olhos de caleidoscópio.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Postpone

No sofá do quintal, as estrelas
e dentro do rapaz.
Inquietas como há de ser
e foi por tanto tempo
mas dentro do rapaz
só sopra o vento simples da duvida.
Digam coisas horrendas,
joguem a sorte ao vento
como um bumerangue
e espere voltar, após colher todos os frutos proibidos.
E é ali mesmo, e só ali, que tudo pode se transformar.
ULTRAJANTE!
Não, é só o vento lá fora.
Mas na cadência insensata das cordas,
eu me pego dizendo:
O rapaz das estrelas sou eu, sentindo o simples vento da dúvida
e, mesmo assim, cantando aos sete ventos
CAIU NO MAR O DESCUIDO BREVE DE UMA VIDA.
E natural como era, se tornou apenas um descuido do caos.
O caos não existe. Ou assim é o que querem que pense.
Só não pense em mim, já estou farto de amores mal resolvidos.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Ator

Sempre que descuido
vem o mundo me dizer
que não dá tempo pra pensar em esquecer

E na verdade o que eu quero é um momento
desse tempo que não tenho
pra tentar me refazer.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Joaquim

ESCONDA O MEU VESTIDO, JOAQUIM, A CHUVA TÁ SUBINDO A SOLEIRA DA PORTA!
Pega aquele lençol novo e bota em cima do armário e corre pra socorrer a Jussara que tá presa na cozinha.
ANDA LOGO, JOAQUIM! LEVANTA ESSA BUNDA DO SOFÁ MOLHADO. NÃO CONSIGO SEGURAR ESSA ÁGUA SOZINHA NÃO.
Se você não fizer alguma coisa, a gente tá ferrado. Maldita chuva JOAQUIM!
CORRE! A ÁGUA CHEGOU NA MINHA CINTURA.

Mas Joaquim estava morto já faziam 2 semanas, sentado no sofá.

Para o inferno com a teimosia

Recorri as outras coisas
como uma procura longa ao desconhecido
e conheci.

Mas me conheci sozinho, naquele riacho frio e escuro.
Sobre pontas de cigarros velhos e molhados
estava construído o pequeno altar da lembrança
e as fotos não paravam de chegar.

Os postes na chuva ficam tão bonitos,
disse eu. E a resposta foi a da revista:
Estou livre em janeiro.

Mesmo não conhecendo, reconheci.
Mas meu amor era tão forte que nem deu pra notar.
"Olhe, querido! Parecem pequenas frases jogadas ali."
"Não, mulher, são inoportunas desculpas aos amores jogados longe."

Porque sou só eu que posso escolher,
e minha escolha é sempre sim.
Soberano ou não, a réplica é da senhoria,
e eu não gostaria de interrompê-la.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Saudável perda de carinho. Ou não.

Dessas últimas palavras que manifesto,
um pouco inebriado, eu sei,
peco pouco no desejo de te ter mais uma vez (ao menos dessa vez)
perto de mim.

Sei que tenho estado longe,
vulgarmente longe,
pois sempre estive perto em coração.
Mas em tanto, e fulgaz, descontentamento,
espero e aguardo o teu sinal.

E, se não me deres,
continuo o plano, e vou.
Mesmo sabendo que já é tarde,
mas sabendo que nunca é tarde demais.

Talvez o meu amor esteja completo enfim,
talvez eu seja capaz de dormir sem pesares afinal.
Se for, estarei feliz.
Se não for, terei tentado.

Só te peço que não perca em ti o que tens de mim,
se tão nobre é.
E não importa o vento que me faça ir um passo atrás,
nem importa o tropeço que me machuque:
Sei que estou bem para continuar,
mesmo que caia e não levante.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Dê as costas e saia, maldito.

Me deu aquelas lindas asas, brancas como dos próprios seres divinos.
Me convidou para voar e dançar naquele céu azul que serpenteava com nossos passos.
Me acolheu em um abraço longo e demorado,
abraço quente onde os pingos do céu azul caíam sobre mim e me davam um manto mais bonito que as próprias asas.
Me contou as histórias do passado, me preencheu com sonhos inimagináveis.
Me acalentou e, por um segundo, achei que me amava tanto quanto eu queria e precisava ser amado.
Mas, por fim, deu seu último mergulho e se juntou ao antigo cisne que já não lhe amava mais.
Me largou por lá, naquele reflexo de céu escuro e chuvoso, com minhas asas negras de pato feio.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Quase Três

Tempo está passando

os anos correndo

tenho quase vinte.

Quase vinte voltas

na bola amarela

quente que flutua.

Se cada dia

passa tão devagar

quanto um domingo,

então todo dia

eu posso fazer

quase muita coisa.

Mas esse quase

não resolve nada.

Esse meu quase

é quanto estou

perto do que

eu quero ser.

Sempre quase lá.

Mas eu vou,

e prometo mesmo,

nesse empenho vou

encontrar eu mesmo

em mim.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Two Left Feet

Depois do medo de me lançar,

surgiu a vontade de saber.

E depois disso, foi a busca.

 

Tanto tempo, tantos caminhos andados,

mas agora me encontro deitado em minha cama

e as costas dóem de tanto deitar.

 

Só espero que espere,

só espero que saiba que estou aqui,

tentando levantar e pisar no chão com o meu pé direito.

 

Mas, depois de meses, descobri que tenho dois pés esquerdos.

Me ajuda a levantar?

sábado, 8 de janeiro de 2011

Escolho

Minha escolha só me leva
a crer
que sou firme forma
de mim

me escolho a cada passo
descompasso
a cada respiro e sopro
me viro
e desviro pra me escolher.

Minha escolha me deixou
triste
e, triste,
te vejo ali.

Eu gosto de você
mas a nossa escolha chegou a esse ponto
e é triste não me ver mais em você.
Me escolho e, se pudesse,
voltaria,
pra poder escolher ter escolhido não te dizer não.

Mas não posso.
Primeiro porque não disse,
segundo que escolha é escolha
então me escolha.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Soninho

Dorme, menina,
que eu durmo pra ti também.
E não se acorde nem me acorde até todo esse tempo acabar.
Não sabes o que vai sonhar,
e nem eu sei nem saberia até acordar denovo.
Mas depois de acordar, espero viver esse novo sonho.
E espero acordar, assim, ao teu lado.
Mas antes de dormir, acalma o medo,
porque sou teu e és minha antes e depois.

Pato, lógico.

Me descuido e já foi.
Puff.
Não consigo mais voltar.
Maldita patologia.
Será que remédio resolve?
Será que quero resolver?
Olha! Denovo!
Puff.
Me descuidei por querer?
Ah não, Léo. Pára com isso.
Te deixa em paz, pelo amor de quem você não acredita.
Quer saber?
Vou deixar.
Só não sei o que fazer agora.
Odeio ter que ocupar minha cabeça.
Será que eu to ficando louco?
Tá. Adeus.

A maior bobagem já escrita do mundo.

Eu sei tão bem que não vai dar. Eu sei de longe que já não aguento mais essa angústia. Esse medo de me perder, porque agora já descobri que já perdi todo o resto exceto a mim. Talvez, na realidade, eu nunca tenha tido e agora é mais fácil e dói menos pensar assim, por não ter o que perder e nem esperar ganhar nada.
Perdas ou ganhos são pura e sólida ilusão.
Sou eu e mais nada. E talvez nem seja. Não posso garantir nada. Ninguém pode.
Por vezes tentei explicar em livros e conversas e afins. Mas não há nada para explicar: nem mesmo detalhes floreados de uma filosofia completamente quebrada que pessoas inexistentes tentam me fazer acreditar. Por fim, tudo já passou e é irremediável.
Tão longe quanto alguém puder enxergar do alto de qualquer construção. E mais além. E tudo o que se vê é nada. Daí abaixam a cabeça e observam os próprios pés. Magníficos em sua constância, mas inexatos na arquitetura vã que é sua função;
Não correm mais, como se era programado. Apenas servem de conteúdo para meias de algodão e calçados de petróleo. Mas ainda miram os pés. Ou talvez seja coisa da minha cabeça, e todas essas linhas aí em cima sejam devaneios pessoais, ou passa-tempo.
O que me importa é esse tempo.
Não, minto. O que me importa sou eu. E, como sou tão tolo quanto ninguém, esse meu eu engloba todos, mas me contradigo assim.
Vou explicar então, para não haver desentendimento:
Sou, mas posso não ser. Mas, na hipótese de sendo, sou e tento somar mais a esse ser. Então me torno somos, ainda sendo eu mas me distinguindo de mim mesmo para conseguir me transformar em todos nós. Portanto, hipotéticamente, eu sou você, tanto quanto você sou eu. Ou seja, quando digo que o que me importa sou eu, digo que me importo conosco e, assim, me importando também com todos os pares de pés que correm ou não.
Não tenho certeza se fui claro, mas, partindo da hipótese criada, não há necessidade nenhuma de ser claro, pois se eu consegui me compreender - e eu somos todos nós - o entendimento já está imposto, já que é você quem está escrevendo e não eu, mas eu também.
Irônico.
Mas completamente verdadeiro.
Ou uma baboseira sem fim.

A única falha em toda essa divagação é o amor.
O amor é algo completamente diferente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Semáforo Paulo Freitas

Já tem tempo que sento nessa janela do segundo andar e me ausento um pouquinho da alquimia do tempo.
Sei que já se passam das sete da manhã, e já posso apagar a luz do meu quarto.
O semáforo em frente da janela tem contador de segundos. 3, 2, 1: FELIZ ANO NOVO!
Mas eu ainda estava em novembro.
E o quanto eu já me lembro.
Qualquer coisa agora pode ser o que eu espero, desde um carro apontando na esquina até um Oliver Twist passando na tevê. Qualquer coisa.
Mas seria em vão pensar em possibilidades nessa manhã. Passei a madrugada inteira pensando no impossível.
Já tem tempo que sinto nessa janela um conforto necessário pra me acalmar. E essa vista do segundo andar é linda, principalmente vendo o sol nascer.
Então vou ali apagar a luz e virar a página. Essa aqui já deu o que tinha que dar.
MORTE
OU
POESIA?

Não importa.
Nenhuma das duas permanece tempo suficiente para ser notada.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Nous Deux

Se é assim, então me desculpe.
Eu não sei o que tenho feito comigo nesses ultimos dias,
mas, pode ter certeza: toda essa incerteza é por causa de você.
E, se não percebeu, eu tentei de todas as formas te dizer que tinha chegado a hora.
Mas essas minhas formas... eu acho que só eu as entendo.
Me desculpe se arruinei algo que talvez não tenha volta,
é que por dentro eu ainda sou aquele mesmo garotinho que escrevia coisas de amor pra ele mesmo ler sozinho no quarto.
E, talvez infelizmente, esse garotinho você não chegou a conhecer.

Mas, se puder, continua tentando.
Talvez acabe valendo a pena pra todos nós.
Nós dois.

Jolene, Jolene

don't forget to take the pills for your heart disease
'cause your lover ain't coming for a about a week
and you'll have to wait a moment to get sick
now your family is living in a mountain peek
and a lot of drugs won't do you any harm

Je ne sais pas

Tenho me dispensado de pensar em amores.
Todos tão sórdidos e, mesmo assim, tão queridos na minha mente.
Estou me encantando cada vez mais com o que não sou, e não sei se isso é plausível de se encantar.
Cada dia que passa, cada segundo no sofá, cada milésimo de emoções vãs não me deixam enganar.
Sou só eu.
E não digo por egoísmo ou melancolia. É essa a verdade que acabei encontrando nesses dias extremamente lúcidos que vivi.
Minha cabeça envolta na lã firme e gasta do encosto do sofá.
E, ela mesma, lá longe onde nem consigo explicar quando me perguntam.

E como têm me perguntado!
Será que perceberam que mudei?
Será que eu mesmo percebi?
Não posso contar,
perderia todo o suspense que tenho guardado para o Gran-Finale.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Marionete? Mas Quem?

Vai! Me destrói com essa tua inocência programada.
Me cochicha no ouvido aquelas coisas impensáveis.
Me empurra até cair na cama e se joga em cima de mim.
Me abraça e arranha as minhas costas enquanto morde meu pescoço.
Me sente inteiro com essas tuas mãos pequenas de menina nova, mas grita todas aquelas palavras de mulher crescida.
Me passa o teu suor pelos meus poros e me ajuda a te agarrar da forma mais agressiva que quiser.
Me esbofeteie, me arranque a carne, me faça sangrar.
Me dilacere enquanto eu arranho tuas costas com minha barba por fazer.
Mas faça tudo o que quiser comigo,
pois eu não vou fazer nada por você.