domingo, 16 de setembro de 2012

12


As migalhas do teu gesso em meus lençóis, ainda guardo.
Em total desconhecimento do que nós éramos,
o nosso retrato revelou o passado tendencioso da minha inquietude.
E descobri que era tua também.

Minhas entranhas ainda gelam ao lembrar do tempo
ao juntar dos casos
e meu relato é ínfimo diante do que nem me atrevo a tranformar em letra.

Teimo em dizer,
e até repito,
que não foi mero laço,
saudoso acaso,
que fez reunir tudo isso em que aqui venho.

Foi você.

E te devo tudo.
Desde o instante daquele momento,
naquela sala distante, sem requerimento,
encontrei o mundo e ele me viu também:
nas esmeraldas que miravam os poucos centímetros que sobravam entre a tua respiração e o calor da minha face já vermelha.

E daí em diante me abstenho:
não consigo discutir em verso o quanto de tudo é que eu tenho.

Nuit


Ele recolhe as insignificâncias.
O amigo do cabelo já foi dormir sem dar o ar das graças.

Fruto do trabalho incansável,
dispõe de abrigo frio e dolorido,
nas entranhas do sofá da sala clara em que se encontra.

Em sua frente,
uma tela mutável mas que se encontra negra, e assim se faz já fazem meses.
Se disperdiçou na varredura de casos, ele.

O cigarro, largou.
A bebida é escassa,
a geladeira também
mas a barriga nem tanto.

Das companhias se absteve e fez bem,
por enquanto.

Só aguarda o leve conforto da que teve nos braços,
e espera os enlaços tardios que só o que vem dirá.

Se quer questionar,
não tem tempo.
Se pode hesitar,
não consegue.

Segue na vã e morta
cadência dos fatos,
acontecimentos e laços.
Estrangula o seu
e até mais ver.

Jaz ali o seu ser.

Bran


Em branco.
Branco não, quase lá.
Uma cor meio fosca que aparenta ser como ando ultimamente.

Enquanto limpo minha casa,
recentemente alugada,
descubro tons estranhos de branco.
O branco da base dos meus tênis lavados com alcool em gel,
o branco do chão que já beira ao cinza
e o branco dessa página.

Simulação de página, eu digo.

Ultimamente eu ando simulando tudo.
Inventando relações naturais com tudo que não era pra ser.
Mas acaba sendo.

Contudo, me esvaio.
Escolho a partícula.
Mas mesmo assim me sinto obrigado aos fótons para o acontecer do meu trabalho.

Conheci tanta gente.
E nesse conhecimento, simulei reações impróprias do meu ser já divulgado.
Escolhi verbos, editei cadência vocal e, infelizmente, subtraí a consciência.

Não apurei meus fatos, inexisti enquanto eu mesmo
e acabei por depor meu contrato frente a juizes e réus.
O promotor se ausentou.

Agora recolho minhas migalhas do labor incansável às inevitáveis uma e meia da manhã.
Não foi uma escolha sã.

Pro meu fim, retorno ao igual:
eu aqui, eles lá, ela vindo.
O que me afaga é o ultimo caso,
o que me conforta é a vastidão do que virá.
Mas vem?

Não espero nada além.