terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Louco as vezes

Quando passa o passo
gira roda, o eixo, o carro,
e longe fica,
É quando bate o peso do laço
pensamento liga e desliga
é pisca-pisca.

É que o lençol desse encontro já foi lavado,
passado, guardado,
mas dentro o peito lembra, não esquece
e arrisca.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Acordei estranho,
sozinho no abrigo.

Sonhei contigo.

Mas teu carinho é melhor ao vivo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Conto mentiroso sobre alguém que inventei

Ele disputava o lucro consigo mesmo.
Queria saber se tinha saído ileso.

"Pra quê tanta disputa!?", disse a puta.
Ele assentiu. Não havia motivo pra perder seu tempo.
Já tinha desfrutado do gozo, que chegou tardio, mas veio.

Juntou seus farrapos, deu o último trago no cigarro e seguiu o breve caminho até a esquina mais próxima.
Sentou e ficou por lá. Não gostava mais de caminhar.
Na verdade, tinha perdido todos os gostos da vida, menos o de disputar lucros.

Por fim, dormiu ali, no frio, a calça ainda aberta, o cigarro inteiro queimado na ponta dos dedos.

Quando o vi na manhã seguinte, não lhe tinha sobrado muita coisa. Os ossos ainda vermelhos, em brasa, fumegavam desesperados.
Disseram que alguns moleques o prenderam bem amarrado e atearam fogo.
Mas só consigo me lembrar da pequena mulher, em prantos, que soluçava.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Caso queira, é só chamar.
Chego o mais rápido que posso,
e vou embora só quando mandar.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

acho que preciso contar dos meus amigos
se me permitem a indiscrição

estamos todos numa fase estranha
cada um com um monte de coisa guardada na entranha
todos andam pedindo um pouco mais do coração

eu mesmo ando caído
cabisbaixo, sofrido
e descobri um monte de razão

mas a vida ainda vem,
meus amigos
e quando vier, vai responder tanta coisa
tanta solução

só não sei se quero isso
quero só tranquilidade
resolver na miúda meus problemas de ansiedade
sorrir quando deitar no colchão

é daí que chega a tua parte
se for, viajo até pra marte
se não vier com não

e todo o resto é sorte
nunca liguei pra morte
e ainda levo meu violão

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vi um anúncio no jornal que me dizia em letras garrafais
MORTE AO EGO, BOM RAPAZ

daí fui pra rua, fiz um monte de loucura
e agora estou tranquilo

pequeno momento

tinha um momento
quando eu era pequeno
que tudo despontava na minha cabeça e parecia que eu ia explodir.
era inverno
talvez explodir me deixasse melhor.

naquele momento
quando eu pensava o quanto ainda era pequeno
eu via o mundo com meus olhos
e já criava o ser que agora não tem mais desses momentos.
mas era sempre inverno
e acabei gostando mais do frio do que de mim.

na tenra idade que me vem agora na cabeça
quando podia dividir os instantes com colchetes imaginários
me inventei como estou agora
e, por incrível que pareça,
gostei.
agora o inverno dura um mês
e acho que nem se eu explodisse
daria conta de me esquentar o quanto preciso

domingo, 24 de agosto de 2014

Escrita sobre aquilo que me aperta o peito.
Dói.
O aperto.
Já escrever, não consegui.

De novo, o tempo

Levo um pouco do tempo no bolso.
Me acalmo. Pego um pouco desse tempo e jogo em mim.
Um pouco de tempo, enfim.
Olho pro longe e me vejo lá.

Os devaneios que me encontram sempre acham no tempo uma resposta.
Falo dele, o tempo, como se fosse coisa morta, e que ainda vai renascer.
Eu gosto dos ponteiros do relógio.

Anéis em um tronco de árvore.

Pedaços de gesso, mármore, marfim.
E ainda discuto se será assim.

Comigo o tempo voa.
Um galope incessante.
Mas, certas vezes, ele pára e me observa.
E é aí que tenho o quando pra sonhar.

As batidas do cronômetro parecem as pulsações do meu coração inóspito.
Vão, voltam, congelam se eu quiser.
Todas as vezes, hoje, eu não quis. Nem que fossem, nem que viessem, nem que parassem.
Mas, tal qual músculo cardíaco, não consegui controlar…

E se foram.