quarta-feira, 29 de junho de 2016

A inspiração de um nas palavras de outro

Tenro
Nos covis do banheiro
Mofado
Calo
Na fala e nos pés
É
Sutura mal costurada
Nada
É
Desjeito no peito
Dejeto
No esgoto insosso
Moço
Que queria tocar-me a face
Num bar
Forró sem som
Sem fala
Calada
Como a noite
Afaga
E apaga os desejos

Dejetos sem jeito

sexta-feira, 24 de junho de 2016

eu sabia
que um dia
me ia voltar
a poesia

só não esperava
que fosse tão doída
essa volta tardia

quem dera voltasse calma
que lavasse a alma
não quedasse arredia

benquista nos sonhos
malvada nos dias

pensei versos risonhos
tristejei porcarias

quinta-feira, 23 de junho de 2016

O valor das bobagens (ou o valor da bobice)

Quando criança, todas as coisas são atencionáveis
O tamanho do grão de terra no canteiro da vovó,
A textura da borracha nova na escola,
O som do vento no lençol estendido,
As orelhas grandes de Samuel.

Me lembro de sentar no chão do pátio e, com o indicador e polegar quase juntos (na altura - e bem próximos - dos olhos), pensar que podia segurar qualquer pessoa ou coisa que passasse por ali. "Que pequeninos", imaginava.

Depois de um tempo, os dedos cresceram. Mas parece que o vão entre eles cresceu mais ainda.

Algo aconteceu

Ontem não importava mais o grão de terra nem as orelhas do amigo. Não cabiam mais pessoas entre os dedos. O bonito tinha virado bobagem.

Hoje, bobo que sou, resolvi ouvir o som do lençol no varal.
E, para minha surpresa, ele ainda estava lá.
O carinho
é como o vinho
Tem a chance de viver longas datas

Alivia as noites
Afasta os açoites
Cura até conversas chatas

Mas o carinho,
como o vinho,
se deixado por muito tempo, vira vinagre

Que não serve pra nada
a não ser temperar a salada

Metade desafinada de uma música sem título e que precisa de parcerias para ser finalizada (leia-se: alguém me ajuda aí)

capo 3

Bm      C#m   F#m    
prevalesceu o mar
G#7
de angústia
A        A/F#
então pra quê
C#m
pensar?

Bm                  C#m
decerto um dia vai
F#m                       G#7     A
brilhar o tempo em teu olhar
                 G#7
sorrindo assim
       C#m
pra mim

          A
e eu vou embora
G#7
sem deixar
C#m
saudade
 A/F#                    X                  C#m
e vou juntar o vento e teu lugar num só cantinho aqui

         A
e eu vou matar
       G#7
essa vontade
C#m                     F#m
eu vou viver de novo esse verão
A                  G#7      C#m
enquanto houver carinho em mim

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Pensei até te procurar em outras bocas
mas teu beijo foi tão longe, tão pouco
que, caso a encontrasse, não saberia

terça-feira, 21 de junho de 2016

domingo, 19 de junho de 2016

Lista de coisas a se fazer ou aprender

1- Deve-se abraçar a sinceridade e caminhar com ela, apesar dos infortúnios que isso possa causar.
2- O amor nunca deve ser requisitado, apenas doado - sem que o motivo seja receber o amor da contraparte.
3- Não se deve pedir desculpas a não ser que o ato venha do abraço da sinceridade.
4- A bondade não exige recíproca, mas não deve ser pura e simplesmente um ato de caridade consigo mesmo.
5- Deve-se ouvir mais do que falar, prestando atenção em todas as nuances da fala e, só depois, analisar e oferecer suas opiniões sinceras.
6- A solidão não deve ser um tema recorrente dos pensamentos.
7- Deve-se aprofundar mais no conhecimento de tudo, não apenas tangenciar a superfície e se dar por satisfeito.
8- Certas vezes, é preciso se deixar não pensar em nada e apaziguar os sentimentos.
9- A saudade é parte do mecanismo do amor, e segue as mesmas regras.
10- Deve-se gostar da própria presença e, com efeito, querer compartilhar.
11-
12-

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Desanuviei

e, como o céu,
me abri

vi que não faz sentido esconder com a peneira
deixa o tempo aberto limpar as penas
deixa o vento vir
deixa vir

desanuviou
deixei o tempo abrir

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Me largo, me deixo, me deito
Frio nas mãos e nos pés
E no coração?
Ah, já não adianta mais falar nisso.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Pleno

Me perder na vasta imensidão do tempo e me encontrar. Anos depois, sozinho ou acompanhado, e pleno. Sem as amarras do insano medo da solidão.

Festina Lente

"Tudo em seu tempo", ela disse.
E sumiu.
O que me resta então é esse tempo que insiste em não passar,
acordando os dias com a memória de uma noite, a única que dividimos.

Então apressa-te, mesmo que essa pressa demore.
Meu peito aguenta só mais algumas pancadas até endurecer
e, quando isso acontecer, não sei o que vai ser de mim

sábado, 4 de junho de 2016

e então constatou que a tristeza faria, cada vez mais, parte do seu ser
e não havia nada de errado nisso

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Faço de mim a pedra na ponta final do abismo
e então eu mesmo chego e chuto a pedra na ponta final do abismo
mas escorrego e não consigo a atingir a pedra na ponta final do abismo
então, desajeitado, caio do abismo onde fica a pedra na ponta final do abismo
e, como fiz de mim a pedra na ponta final do abismo,
me observo cair do abismo

me ralo, me quebro, morro
mas ainda sou a pedra na ponta final do abis...
Ah, pulei também

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Tem vezes que penso te querer de novo

Tem vezes que penso te querer de novo
O sorriso fácil
A dança na rua
As noites suadas com gosto de vinho e gemidos no ouvido
O corpo de mulher com alma de menina
Nosso sexo longo e febril
Os devaneios sobre a existência
As alimentações improvisadas
A leitura no parque

Tudo em um final de semana
Que terminava como terminou

Eu aqui, pensando em te querer de novo,
Você aí, dizendo me querer sempre,
E nenhum dos dois juntos
E nenhum dos dois sozinhos

Mas tem vezes que penso te querer de novo
E tem vezes que quero
Prendo o prego próximo ao peito pra não precisar parecer perfeito o que paira ali por perto
Aperto a porta e fecho
Tranco a tranca tão bem trancada que tento sair e não consigo
Desprendo o prego
Destranco a tranca
Não quero quedar aqui comigo

Uma rima no final, pra parecer bonito o clichê

Essa noite de chuva me faz pensar em você.
Na verdade, qual noite não tem me feito isso?

Então me deixo assim, pensando
e quando vejo, já fui longe

As gotas molham a janela do meu quarto.
Sinto-as em mim,
como teus dedos gelados poderiam ter sido

E enquanto escuto os gotejos, penso que também os ouve
E cala
Tão bom é o silêncio pra sonhar

Então cogito parar de pensar:
Talvez te traga pra perto

Mas, de longe, deixo o pensamento na enxurrada

Só penso em você e mais nada