segunda-feira, 7 de março de 2016

Dois barcos - Cap. I

Eram dois navios que oscilavam, longe, num grande mar de infinidades. Afastados pelo espaço e pelo tempo, mas com um destino comum.
Chegariam em algum ponto, o mesmo ponto, lugar em que seus trajetos não seriam mais importantes.
Ali, provavelmente, seria conclusivo que nem deveriam ter existido.
E ainda assim eram dois barcos, navegando pelo espaço-tempo.

O casco de um, desgastado pelas marés, trazia marcas e cicatrizes vorazes, resistindo ofegantes às investidas do sempre violento mar. Rangiam alto, ritmadas pelo som da antiguidade, mas nunca cediam ao avanço contrário das águas.

O casco do outro tinha o verniz reluzente à luz laranja do pôr-do-sol. Cortava as ondas como faca afiada e quente, passando pela carne ainda fresca. Navegava na velocidade do vento e não havia nada que o pudesse parar. Era um raio de luz que todos viam e segundos depois não estava mais lá.

Eram contrários e, sem saber, ainda tinham seu encontro.

domingo, 6 de março de 2016

Versinhos para uma cabana nas montanhas

A grama seca da neve que passou.
Ao lado, a lenha que sobrou dos fogos que acendi ali.
Eu, parado, contemplo tudo, aqui.
Não tenho resposta pra nada
só viver e lembrar do que vivi.

Lá fora ela corre, dança,
o vestido gira no contorno do vento,
aguarda o chá que aqui dentro esquento.
Já nem lembro da grande cidade, do pequeno apartamento.

Tudo é lento
não duvido, só alento e agradeço.
O que há de vir virá

Em paz.
Só existe a paz.

A moça do bosque

Ela era grande, a linda pequena mulher que cantarolava pelo bosque
sozinha.
Rodava seu vestido e, enquanto envelhecia, o tecido continuava na sinuosa dança.
Centrífuga, disseram sobre ela.

Quando girava, entrava em ressonância com a Terra,
a mesma frequência.

Ela está em consonância com tudo,
em harmonia, como sonhavam os antigos.

Uma das mais belas músicas cantadas pelo universo.