terça-feira, 28 de setembro de 2010

Velha

Hoje na rua eu consegui me deter
e pensei.
Consegui me tocar e me ver de dentro:
Aquela parte de mim palpitando para ser eu,
e era.

Toda a rua se virou de reverência, o meu carnaval particular e sóbrio.
Observava além dos confetes, mas nada mais me fez pensar.
O barulho era ensurdecedor.

Eu via os caras da madrugada e percebia
que era só aquilo que me tocava na nova vida
e não digo que fiquei triste, por essas é que eu sou pura felicidade.

O carnaval ficou bom e a água não era pra ressaca,
era só pra ter com quem tomar.
Lhes digo, amigos, que água boa era aquela.
Meu novo sonho púrpura lembrou do velho sonho e tudo ficou cinza como aquele céu.

Agradeci, o que mais eu podia fazer?

domingo, 19 de setembro de 2010

Um pequeno oi.

Oi, eu adoro o teu bom dia de madrugada quando acordo já na tarde e nem percebo os erros do resto do dia e quando vejo a luz na tela e fecho os olhos pra dormir só mais um pouco e sonhar com o que pode ser e lembrar dos poucos dias em que eu já me sentia um passarinho só de pensar que te veria sorrindo e dizendo coisas que guardei pra lembrar depois e conversar sobre coisas que guardei pra falar agora.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Não é mais verdade, mas ainda vale como produção intelectual.

E eu a olho com suspiro,
nunca o ultimo, eu sei,
mas sempre o desespero.

E na volta, calo-me certamente.
Como na primeira vez em que
tais olhos vi de perto.

Agora, ano além,
me vejo com a mesma vontade de outrora,
tê-la perto, meu mundo certo, sem a falta.

Me desperto do suspiro e não me calo:
Mesmo longe, não tão perto,
aqui fica sempre teu, como sempre é
e espero o quanto seja.
Vixe, parece música sertaneja.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Penso o que quero e vice-versa.

Eu até queria acreditar,
até queria aceitar.
Mas só penso no contrário.

Até pensei voltar,
eu até pensei em não voltar.
Mas só quero o contrário.

Eu até queria dormir bem,
até queria não sonhar com nada.
Mas eu só penso em tudo isso.

Até pensei em deixar,
eu até pensei em me deixar.
Mas agora eu sei que é só eu quem escolhe o que faço de mim. Então vou pensar o quanto quiser, e querer o quanto pensar que for preciso.
Hoje não foi nada, hoje foi só um dia em que eu quis não pensar.
Mas não me deixaram.

Viagem ao Centro da Terra

- Olá, digo eu.
- Olá, diz ela.
- É quanto? digo eu.
- É cinquenta, diz ela.
- Toma, digo eu.
- Então vamos, diz ela.
- É aqui o meu apartamento, digo eu.
- Bonito, diz ela.
- Tira a roupa, digo eu.
- Ah, diz ela.
- Vem, digo eu.
- Isso, diz ela.
- Gostosa, digo eu.
- Que delícia, diz ela.
- Isso, digo eu.
- Aaaah, diz ela.
- Uuh, digo eu.
- Gostou, gato? diz ela.
- Quer um cigarro? digo eu.
- Não, diz ela.
- Já vai? digo eu.
- Sim, diz ela.
- Tchau, digo eu.
- Até, diz ela.

Rapidez

E agora? Como a gente vai saber?
E agora? Cadê aquele "sempre sei"?
Mas e agora? Porque fui duvidar?
Vou embora, não aguento mais esperar.

Acidental

Ela olha para os dois lados da rua e atravessa. Passa pela travessa onde tudo aconteceu e sente o cheiro de mofo. Acende um cigarro para esquecer o cheiro de sangue. Entra na porta velha, a velha porta que a atormenta nas noites em sua cama. As paredes escutam o tão silencioso passo e sentem o cheiro da fumaça do cigarro. As paredes, absortas, abrem caminho para ela passar. A moça encontra a outra porta, a porta que lhe falaram ser tal. Bate três vezes, já com a mão no bolso. Aguarda. Bate três vezes novamente, agora suando frio. O velho abre."Não estou mais vendendo", diz ele encarando a moça até lembrar quem era ela. Lembra-se da maravilhosa noite de núpcias na mesma travessa, onde a lua ouvia os uivos do casal recém encontrado.
Três sons surdos de pólvora escorrem pelo ar do grande corredor escuro, enquando o velho escorre pelas paredes ainda absortas e sujas.
Ela acende outro cigarro e lembra-se do velho, lembra-se da dor. Deseja poder matá-lo novamente, mas os jornais não a deixam: "Famoso estuprador e traficante é morto por uma de suas vítimas."