segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Samba:

Naquele dia me amou como um qualquer
Mas quando acordou quis ser minha mulher
E eu, sem jeito, fui eleito pra viver ao lado teu
Mas feliz não fui, quisera eu

Das tuas sobras o que sobrou pra mim foi mágoa
Agora entendo, querias uma escada
Mas não te dei sequer nenhum vintém
E agora vivo feliz com outro alguém

Mas tá tudo bem

Sabe, mano, que saudade de prosear cheio de risada
no domingo de tarde frente à tevê sem som.
A gente fala e se ouve e nem vê e quando vê já tem até batuque e violão.
Mas como a tevê, muda, o que eram as coisas antes
agora não são.

Corretor automático

o que está
escrito, sempre
pode ser apagado

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Uma ode à leveza

Que minha existência venha de uma só ternura, de um só movimento singelo e que abrace todos os outros movimentos.
Que meu sonho não seja premeditado. Que exista tão sutilmente quanto existo e que seja longo e breve.
Que a leveza do ser desbanque o mundo insosso que me vendem. Que cale a loucura que comprei nos primeiros vinte anos de vida, e me faça comprar mais quarenta anos de lucidez (mesmo que pareça insana).
Que eu navegue ou voe por mares e céus livres, acompanhado dos poucos e muitos que o fazem sem saber.
Que eu não saiba que navego.
Que meu instinto seja ele, de tal forma que não o perceberei e mesmo assim estarei sendo guiado. Por mim. E por todos.
Que eu seja mar e vento e terra e grama e ao mesmo tempo seja eu e nós.
E que nós sejamos não só e simplesmente palavra, mas um. E leves. E que sejamos breves aprendizes do que já foi e do que será.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A poesia turva do mar chista

Estive pensando na metáfora
Da briga eterna do mar
E a areia

Ele, bravo,
Bate
Incessante, louco
A cada vinte segundos
Nela

E a paz daquela
Aceita
Acha que quando a espuma
Bate
Nela se mistura
E ela vira mar sem querer

O que sobra mais pra frente
É areia mais forte que mar

Mas no fundo
Ela quer que venha
Pra areia, Maria da Penha

sábado, 6 de agosto de 2016

Quando saí da redação fechada de um ar que se condicionou há tempos, sorri.
Caminhei como um ser humano caminha. Leve, sabia que - por algum tempo - não tinha nada por vir.
Andei a cidade, pensei em liberdade - mas não a vivi.
É que tanto tempo trancado, feito rato, experimentado, só me fez questionar:
Que vida é essa que levo, que ficar parado é remédio? Que tenho só um mês em doze para mudar todo o ar?
E de longe, pequenino, aquietei:
Sorte minha que questiono o que questionei. Há quem viva um em doze e morre sem viver, como se fosse lei.

Sexta feira, bar do Chico com o outro Chico e um amigo dele

Sou o velho bebendo no bar
Cicatrizado
De fone no ouvido
Para não ouvir

Se encontro conhecidos
Estranhos velhos amigos
Delicio
Nas histórias que vivi

Sou o vermelho aquecendo o assento
Rubro
Com tampão nos olhos
Para ver

Se me enlouqueço
Levemente padeço
Rio
Vivo pra quê?

Sou a tarde vazia
Maria
Esquentando o feijão
Para não comer

E me entristeço

Sei que mereço
Dilúvio
Nadar
Afogar
e não morrer