segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Dê as costas e saia, maldito.

Me deu aquelas lindas asas, brancas como dos próprios seres divinos.
Me convidou para voar e dançar naquele céu azul que serpenteava com nossos passos.
Me acolheu em um abraço longo e demorado,
abraço quente onde os pingos do céu azul caíam sobre mim e me davam um manto mais bonito que as próprias asas.
Me contou as histórias do passado, me preencheu com sonhos inimagináveis.
Me acalentou e, por um segundo, achei que me amava tanto quanto eu queria e precisava ser amado.
Mas, por fim, deu seu último mergulho e se juntou ao antigo cisne que já não lhe amava mais.
Me largou por lá, naquele reflexo de céu escuro e chuvoso, com minhas asas negras de pato feio.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Quase Três

Tempo está passando

os anos correndo

tenho quase vinte.

Quase vinte voltas

na bola amarela

quente que flutua.

Se cada dia

passa tão devagar

quanto um domingo,

então todo dia

eu posso fazer

quase muita coisa.

Mas esse quase

não resolve nada.

Esse meu quase

é quanto estou

perto do que

eu quero ser.

Sempre quase lá.

Mas eu vou,

e prometo mesmo,

nesse empenho vou

encontrar eu mesmo

em mim.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Two Left Feet

Depois do medo de me lançar,

surgiu a vontade de saber.

E depois disso, foi a busca.

 

Tanto tempo, tantos caminhos andados,

mas agora me encontro deitado em minha cama

e as costas dóem de tanto deitar.

 

Só espero que espere,

só espero que saiba que estou aqui,

tentando levantar e pisar no chão com o meu pé direito.

 

Mas, depois de meses, descobri que tenho dois pés esquerdos.

Me ajuda a levantar?

sábado, 8 de janeiro de 2011

Escolho

Minha escolha só me leva
a crer
que sou firme forma
de mim

me escolho a cada passo
descompasso
a cada respiro e sopro
me viro
e desviro pra me escolher.

Minha escolha me deixou
triste
e, triste,
te vejo ali.

Eu gosto de você
mas a nossa escolha chegou a esse ponto
e é triste não me ver mais em você.
Me escolho e, se pudesse,
voltaria,
pra poder escolher ter escolhido não te dizer não.

Mas não posso.
Primeiro porque não disse,
segundo que escolha é escolha
então me escolha.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Soninho

Dorme, menina,
que eu durmo pra ti também.
E não se acorde nem me acorde até todo esse tempo acabar.
Não sabes o que vai sonhar,
e nem eu sei nem saberia até acordar denovo.
Mas depois de acordar, espero viver esse novo sonho.
E espero acordar, assim, ao teu lado.
Mas antes de dormir, acalma o medo,
porque sou teu e és minha antes e depois.

Pato, lógico.

Me descuido e já foi.
Puff.
Não consigo mais voltar.
Maldita patologia.
Será que remédio resolve?
Será que quero resolver?
Olha! Denovo!
Puff.
Me descuidei por querer?
Ah não, Léo. Pára com isso.
Te deixa em paz, pelo amor de quem você não acredita.
Quer saber?
Vou deixar.
Só não sei o que fazer agora.
Odeio ter que ocupar minha cabeça.
Será que eu to ficando louco?
Tá. Adeus.

A maior bobagem já escrita do mundo.

Eu sei tão bem que não vai dar. Eu sei de longe que já não aguento mais essa angústia. Esse medo de me perder, porque agora já descobri que já perdi todo o resto exceto a mim. Talvez, na realidade, eu nunca tenha tido e agora é mais fácil e dói menos pensar assim, por não ter o que perder e nem esperar ganhar nada.
Perdas ou ganhos são pura e sólida ilusão.
Sou eu e mais nada. E talvez nem seja. Não posso garantir nada. Ninguém pode.
Por vezes tentei explicar em livros e conversas e afins. Mas não há nada para explicar: nem mesmo detalhes floreados de uma filosofia completamente quebrada que pessoas inexistentes tentam me fazer acreditar. Por fim, tudo já passou e é irremediável.
Tão longe quanto alguém puder enxergar do alto de qualquer construção. E mais além. E tudo o que se vê é nada. Daí abaixam a cabeça e observam os próprios pés. Magníficos em sua constância, mas inexatos na arquitetura vã que é sua função;
Não correm mais, como se era programado. Apenas servem de conteúdo para meias de algodão e calçados de petróleo. Mas ainda miram os pés. Ou talvez seja coisa da minha cabeça, e todas essas linhas aí em cima sejam devaneios pessoais, ou passa-tempo.
O que me importa é esse tempo.
Não, minto. O que me importa sou eu. E, como sou tão tolo quanto ninguém, esse meu eu engloba todos, mas me contradigo assim.
Vou explicar então, para não haver desentendimento:
Sou, mas posso não ser. Mas, na hipótese de sendo, sou e tento somar mais a esse ser. Então me torno somos, ainda sendo eu mas me distinguindo de mim mesmo para conseguir me transformar em todos nós. Portanto, hipotéticamente, eu sou você, tanto quanto você sou eu. Ou seja, quando digo que o que me importa sou eu, digo que me importo conosco e, assim, me importando também com todos os pares de pés que correm ou não.
Não tenho certeza se fui claro, mas, partindo da hipótese criada, não há necessidade nenhuma de ser claro, pois se eu consegui me compreender - e eu somos todos nós - o entendimento já está imposto, já que é você quem está escrevendo e não eu, mas eu também.
Irônico.
Mas completamente verdadeiro.
Ou uma baboseira sem fim.

A única falha em toda essa divagação é o amor.
O amor é algo completamente diferente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Semáforo Paulo Freitas

Já tem tempo que sento nessa janela do segundo andar e me ausento um pouquinho da alquimia do tempo.
Sei que já se passam das sete da manhã, e já posso apagar a luz do meu quarto.
O semáforo em frente da janela tem contador de segundos. 3, 2, 1: FELIZ ANO NOVO!
Mas eu ainda estava em novembro.
E o quanto eu já me lembro.
Qualquer coisa agora pode ser o que eu espero, desde um carro apontando na esquina até um Oliver Twist passando na tevê. Qualquer coisa.
Mas seria em vão pensar em possibilidades nessa manhã. Passei a madrugada inteira pensando no impossível.
Já tem tempo que sinto nessa janela um conforto necessário pra me acalmar. E essa vista do segundo andar é linda, principalmente vendo o sol nascer.
Então vou ali apagar a luz e virar a página. Essa aqui já deu o que tinha que dar.
MORTE
OU
POESIA?

Não importa.
Nenhuma das duas permanece tempo suficiente para ser notada.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Nous Deux

Se é assim, então me desculpe.
Eu não sei o que tenho feito comigo nesses ultimos dias,
mas, pode ter certeza: toda essa incerteza é por causa de você.
E, se não percebeu, eu tentei de todas as formas te dizer que tinha chegado a hora.
Mas essas minhas formas... eu acho que só eu as entendo.
Me desculpe se arruinei algo que talvez não tenha volta,
é que por dentro eu ainda sou aquele mesmo garotinho que escrevia coisas de amor pra ele mesmo ler sozinho no quarto.
E, talvez infelizmente, esse garotinho você não chegou a conhecer.

Mas, se puder, continua tentando.
Talvez acabe valendo a pena pra todos nós.
Nós dois.

Jolene, Jolene

don't forget to take the pills for your heart disease
'cause your lover ain't coming for a about a week
and you'll have to wait a moment to get sick
now your family is living in a mountain peek
and a lot of drugs won't do you any harm

Je ne sais pas

Tenho me dispensado de pensar em amores.
Todos tão sórdidos e, mesmo assim, tão queridos na minha mente.
Estou me encantando cada vez mais com o que não sou, e não sei se isso é plausível de se encantar.
Cada dia que passa, cada segundo no sofá, cada milésimo de emoções vãs não me deixam enganar.
Sou só eu.
E não digo por egoísmo ou melancolia. É essa a verdade que acabei encontrando nesses dias extremamente lúcidos que vivi.
Minha cabeça envolta na lã firme e gasta do encosto do sofá.
E, ela mesma, lá longe onde nem consigo explicar quando me perguntam.

E como têm me perguntado!
Será que perceberam que mudei?
Será que eu mesmo percebi?
Não posso contar,
perderia todo o suspense que tenho guardado para o Gran-Finale.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Marionete? Mas Quem?

Vai! Me destrói com essa tua inocência programada.
Me cochicha no ouvido aquelas coisas impensáveis.
Me empurra até cair na cama e se joga em cima de mim.
Me abraça e arranha as minhas costas enquanto morde meu pescoço.
Me sente inteiro com essas tuas mãos pequenas de menina nova, mas grita todas aquelas palavras de mulher crescida.
Me passa o teu suor pelos meus poros e me ajuda a te agarrar da forma mais agressiva que quiser.
Me esbofeteie, me arranque a carne, me faça sangrar.
Me dilacere enquanto eu arranho tuas costas com minha barba por fazer.
Mas faça tudo o que quiser comigo,
pois eu não vou fazer nada por você.