quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Acidental

Ela olha para os dois lados da rua e atravessa. Passa pela travessa onde tudo aconteceu e sente o cheiro de mofo. Acende um cigarro para esquecer o cheiro de sangue. Entra na porta velha, a velha porta que a atormenta nas noites em sua cama. As paredes escutam o tão silencioso passo e sentem o cheiro da fumaça do cigarro. As paredes, absortas, abrem caminho para ela passar. A moça encontra a outra porta, a porta que lhe falaram ser tal. Bate três vezes, já com a mão no bolso. Aguarda. Bate três vezes novamente, agora suando frio. O velho abre."Não estou mais vendendo", diz ele encarando a moça até lembrar quem era ela. Lembra-se da maravilhosa noite de núpcias na mesma travessa, onde a lua ouvia os uivos do casal recém encontrado.
Três sons surdos de pólvora escorrem pelo ar do grande corredor escuro, enquando o velho escorre pelas paredes ainda absortas e sujas.
Ela acende outro cigarro e lembra-se do velho, lembra-se da dor. Deseja poder matá-lo novamente, mas os jornais não a deixam: "Famoso estuprador e traficante é morto por uma de suas vítimas."

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