segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A comédia do seu fim.

O que é isso que ostenta no peito?
É coisa que nem sabe direito?
Encontra o velho pão dormido
e perde os dentes pra se acostumar
treze anos de alegria
o triplo e meio de azar
na maleta três aspirinas
um copo d'água
margarinas
dois quilos de manjar

O que te esconde se não surte efeito?
Já troca o tempo pelo selo eleito?
Pensou que foi mas não tinha ido
diz que tenta mas nem quer tentar
abre a mão mas noutro dia
poesia é puro ar
vai lembrar daquelas sinas
quedas d'água
marinas
e não vai querer voltar

Não se muda nenhum feito.
Do berço até o leito.
Queria ter sido
poderia mudar
se pensasse na maria
se pudesse não lutar
pede até graças divinas
benze água
imaginas
e perde e deixa o tempo voar

Eu não sei entender o começo, meio e fim.
Ai de mim.

Meu tempo

De tudo um pouco
se alimenta o profundo mar de sentidos.
O toque na pele,
o som do sorriso.
Percebe a falta nos segundos
quando o tempo passa bem mais devagar.
Hoje é tartaruga, até te encontrar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Porquesia?


A poesia não é um salto no escuro,
seria triste demais se fosse.
A poesia é um extremo norte de algum lugar bem ao sul do oeste.
A poesia é deus, e todos sabem que ele não existe.
Os que não sabem, por favor se submetam a exames.
Por que a poesia é tão manda chuva?
Bate vento na janela.
A poesia pra mim é uma teclinha que eu aperto dentro do nariz de um mendigo.
É um botãozinho no cu de um elefante, e você veste pés de pato e máscara de mergulho.
A poesia pode ser qualquer palavra relacionada a sexo, traumas de infância ou anestesias.
A poesia tem fedido ultimamente.
Me disseram que é bom não usar desodorante na poesia,
ele escurece a pele.
Eu gosto da minha poesia de pele lisa e mal passada, com muito molho, por favor.
A poesia é uma esfera azul cintilante no fundo mais profundo do mar.
Poesia é o caralho.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

04:15 é quase.


O quê tem pra me dizer a essa hora da madrugada?
Que ainda falam em algum lugar do mundo,
trancados no quarto?
É o que faço agora?

Vais hoje, que já é tarde,
e volta daqui um tempo,
que já é tudo natural.
Mas e se não fosse?

Daí tem muitas pessoas na tua vida que ainda respiram
mas nunca mais dividiram o teu ar,
e nem irão.

"Mas vai hoje, que já é tarde"
é o que me diz essa hora da madrugada,
e eu acato e vou quieto.

Lá tem vida nova no teu sangue.
Aqui também.
Meu grande amigo disse que vida é quando toca a vida de alguém.

Daí a gente vai tocando a vida então.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Otimismo, pra quê te quero?


Decepo-me e logo noto nós na minha cabeça.
Chego mais perto para um olhar mais aguçado.
Vejo pulgas atrás da orelha e rugas nos olhos.

Boto minhas luvas de taxidermista
e vou ao ataque: PLAFT! tenho minha consciência em mãos.
Brinco um pouco, giro-a no ar.
Aproximo o bisturi e corto na metade.
Jogo uma parte fora e a outra boto logo de volta no lugar.

Dilacero-me a cabeça em todas as partes.
Tiro metade de um e metade de outro.
Três metades para cada três inteiros
são jogadas no lixo,
as outras três, devolvo a mim.

Ao fim do dia, tenho só sorrisos,
que metade de mim que era choro
fica nos entulhos hospitalares
dessa nossa vida,
para ser esquecida ou reciclada.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Paranóia

Olho de um lado pro outro.
Olho de novo.
Tem sempre alguém ali.
Olá.

Olho pra ver se ando torto,
olho meio torto de novo.
Cadê?
Não achei ninguém.
Olá?

Cadê aquela minha calma?
Cadê a alma que já tive aqui?
Cadê as respostas pra vida que pedi?
Cadê os pedidos que queria ouvir?

Olho de um lado pro outro,
um lado torto, olho pra mim.
Tinha alguém que não está mais ali.
Tinha alguém aqui que não estou mais.
Tem quem entenda?
Alguém me conhece?
Queria que conhecessem.