sexta-feira, 13 de abril de 2018

Ni

Ela, no momento oportuno
Fez de oportunista um adjetivo chulo
Sua mão me levou: mas meus pés já sabiam por onde ir

E nos trancamos, num sem tempo que ainda ecoa
E nos amamos, torpe e lindo como devia ser:
Rindo

E o que me lembro dali pra frente foi sorriso

Depois do beijo
Sorriso

Conversar
Sorriso

Depois do sexo
Sorriso

Acordar ali
Sorriso

Mas minha triste tristeza,
Essa era a oportunista chula.
Me carregou pra um baixo tão baixo,
Mas tão baixo
Que só me sobrou reinventar

E ali, tristemente, Ela não tinha espaço
E então se foi (por minha culpa)

Sei do seu choro por relato
Nem poderia imaginar o estrago
E causar dor em outro também me causa

E de lá foi quase um ano
Engenhando meu novo eu com sua ajuda,
Mesmo sem saber

Pra transformar o longo em curto:
Me refiz libertando o espaço da tristeza
E de volta coube ela direitinho dessa vez

Mas nela reinavam outras coisas (as vezes tristes) que ainda tentamos rever

Dessa vez juntos, com amor
Coisa que nunca imaginei digno de viver

E como vivo agora!
Vivo grande, vivo longe!
Viveremos!

Quando um aprende ao outro ensina

E é assim que quero ser

sábado, 2 de setembro de 2017

Enquanto encontro encantos
Esqueço o quanto esvaio
Abro, fecho, entro, saio
Enquanto canto meu ensaio

E caio e retorno pro mesmo torno 
Pro mesmo giro e me viro ao contrário
Conto quantos contos, quantas tantas
E sou eu o meu encanto ao fim das contas

sábado, 27 de maio de 2017

O sono me derrubou por meses,
Todas as noites eu dormi. 
Ontem, como uma nova empreitada, permaneci acordado
E mudei 

A insone metamorfose dos adultos me serve agora de remédio pro mau que nem imaginava ter: ser normal

Não vou ler a bula

domingo, 20 de novembro de 2016

eu sou esse momento
sou essa saudade
dos corpos juntos e as mentes mais.
Eu sou a junção do meu e o seu.

Eu sou esses segundos longos que antecedem o pensamento sobre você
e nem conto... Um, dois, três já pensei de novo
e nem quero não pensar.
Um, dois e já não espero o três chegar.

sábado, 1 de outubro de 2016

Houve momentos de desespero em que a alma cansada titubeava
Houve momentos de inferno
e nesses momentos calados, de lençóis molhados de sal dos olhos, ansiava
pela morte dos momentos

O sol havia se posto já fazia dois dias e, assim, nesse processo obtuso,
se pôs de novo sem nem nascer.
E foi aí -> no segundo minuto de escuridão -> que o momento dos infernos
se foi.

E o sol nasceu três vezes no mesmo instante, cê tinha que ver.
Secou os lençóis, deu pra guardar o sal num pote
e temperar o feijão por um mês.

E que feijão bom que rendeu.
Todo mundo comeu.
O coração brasileiro; o corpo do mundo inteiro;
na cabeça, ela, numa praia do Rio de Janeiro
com pés de grão de areia
sereia de calcinha e sutiã

domingo, 25 de setembro de 2016

Dormingo

Dormi no domingo
e sonhei

Foi sonho breve eu sei
mas me peguei dormindo

Reviravolta de pensamento, sabe?
Daqueles de acordar do avesso,
mas o avesso bom de uma coisa boa
Reviravolta que volta pro mesmo lugar
mas melhor

E tem sido assim
no domingo
sorrindo dormindo
no aguardo
sem carregar fardo
só deixando o ano passar

E como passa rápido esse ano...

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Pensando em ti, sambei
movi dois pra lá e dois pra cá
e me deixei sorrir só com pensamento

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Samba:

Naquele dia me amou como um qualquer
Mas quando acordou quis ser minha mulher
E eu, sem jeito, fui eleito pra viver ao lado teu
Mas feliz não fui, quisera eu

Das tuas sobras o que sobrou pra mim foi mágoa
Agora entendo, querias uma escada
Mas não te dei sequer nenhum vintém
E agora vivo feliz com outro alguém

Mas tá tudo bem

Sabe, mano, que saudade de prosear cheio de risada
no domingo de tarde frente à tevê sem som.
A gente fala e se ouve e nem vê e quando vê já tem até batuque e violão.
Mas como a tevê, muda, o que eram as coisas antes
agora não são.

Corretor automático

o que está
escrito, sempre
pode ser apagado

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Uma ode à leveza

Que minha existência venha de uma só ternura, de um só movimento singelo e que abrace todos os outros movimentos.
Que meu sonho não seja premeditado. Que exista tão sutilmente quanto existo e que seja longo e breve.
Que a leveza do ser desbanque o mundo insosso que me vendem. Que cale a loucura que comprei nos primeiros vinte anos de vida, e me faça comprar mais quarenta anos de lucidez (mesmo que pareça insana).
Que eu navegue ou voe por mares e céus livres, acompanhado dos poucos e muitos que o fazem sem saber.
Que eu não saiba que navego.
Que meu instinto seja ele, de tal forma que não o perceberei e mesmo assim estarei sendo guiado. Por mim. E por todos.
Que eu seja mar e vento e terra e grama e ao mesmo tempo seja eu e nós.
E que nós sejamos não só e simplesmente palavra, mas um. E leves. E que sejamos breves aprendizes do que já foi e do que será.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A poesia turva do mar chista

Estive pensando na metáfora
Da briga eterna do mar
E a areia

Ele, bravo,
Bate
Incessante, louco
A cada vinte segundos
Nela

E a paz daquela
Aceita
Acha que quando a espuma
Bate
Nela se mistura
E ela vira mar sem querer

O que sobra mais pra frente
É areia mais forte que mar

Mas no fundo
Ela quer que venha
Pra areia, Maria da Penha

sábado, 6 de agosto de 2016

Quando saí da redação fechada de um ar que se condicionou há tempos, sorri.
Caminhei como um ser humano caminha. Leve, sabia que - por algum tempo - não tinha nada por vir.
Andei a cidade, pensei em liberdade - mas não a vivi.
É que tanto tempo trancado, feito rato, experimentado, só me fez questionar:
Que vida é essa que levo, que ficar parado é remédio? Que tenho só um mês em doze para mudar todo o ar?
E de longe, pequenino, aquietei:
Sorte minha que questiono o que questionei. Há quem viva um em doze e morre sem viver, como se fosse lei.

Sexta feira, bar do Chico com o outro Chico e um amigo dele

Sou o velho bebendo no bar
Cicatrizado
De fone no ouvido
Para não ouvir

Se encontro conhecidos
Estranhos velhos amigos
Delicio
Nas histórias que vivi

Sou o vermelho aquecendo o assento
Rubro
Com tampão nos olhos
Para ver

Se me enlouqueço
Levemente padeço
Rio
Vivo pra quê?

Sou a tarde vazia
Maria
Esquentando o feijão
Para não comer

E me entristeço

Sei que mereço
Dilúvio
Nadar
Afogar
e não morrer

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Me desfaço
E me encontro
Desfeito

Feito um tiro
No peito frágil
Lânguido
Ágil
E deito

Me desmancho

E mancho o chão
Com o sangue nosso
Póstumo
Estancado

Hemoglobina

E então desfeito
Arrumo um jeito
Mexo,
Grito,
Clarifico

Ó sangre nostro
Mórbido
Gratifico

E
poético político
Humano fraco fico

terça-feira, 19 de julho de 2016

O poema da falsa liberdade tardia

Dorme o velho bêbado
na rua
muda

Passa o carro e absorve

O velho dorme

Passos largos no caminho
de volta pra casa que nunca teve
e volta

A revolta longe, já nem lembra.

O que recorda é o velho pesar
a pipa que não voa mais,
nem voará

O que relembra e enaltece
é o mundo que esquece em cada gole de cachaça
e tenta viver, e tudo passa
mas nada há de passar

E dorme pra esquecer
que acorda no dia seguinte
pra querer dormir

relógico

Cada qual tem um tempo
cada tempo pulsa
e pulsa
tic

Cada metro quadrado
aguardado
pulsa

Todo espaço no seu tempo
e a cada contratempo
momento
tac

E se pudesse viver o instante
cada alçada ante
penitência
tic

E se quisesse saber do futuro
um belo e velho muro
teria consentimento

É que de novo
tac

E que de velho
tic

E toc
o mundo

Prefere viver de desalento

Se o canto já passou
e a lástima engessou
o que lhe resta é contento

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Ontem fui ao cinema sozinho, esperando te ver por lá. Pensei que, entre todas as cadeiras vazias, uma estaria cheia de ti e era ao lado que eu iria sentar.
Ontem fui ao cinema sozinho e, ao findar do filme, levantei rápido para ver se estavas ali. Te vi em todos os rostos chorosos e solitários, mas em nenhum te encontrei.
Ontem fui ao cinema sozinho, esperando dividir um cigarro contigo na volta. Como não estavas por lá, andei sozinho o calçadão, atravessei a rua, subi o morro, entrei em casa, deitei e dormi.